MISTÉRIO DA VIDA

O mistério da vida contém a infinita escuridão do céu da noite iluminada pelas distantes órbitas de fogo, a casca enrugada de uma laranja que solta sua fragrância ao nosso toque, as profundezas insondáveis dos olhos da amada. Nenhuma história da criação, nenhum sistema religioso consegue descrever ou explicar direito essa riqueza e essa profundidade. O mistério é tal que ninguém sabe ao certo o que vai acontecer daqui a uma hora.
Do ponto de vista do mistério, não existe um caminho fixo. Na verdade, nem existe um caminho, pois isso seria situá-lo no domínio do espaço e do tempo. Mas tempo e espaço também são um mistério — o passado que desapareceu, o futuro só imaginado, o presente tão fluido quanto a água. Despertar não é fixar nem segurar, mas gostar do que está aqui. Essa verdade liberta o coração da sofreguidão. O mistério que nos gerou se transforma numa dança.
Os sábios hindus chamam essa dança de “lila”, a dança eterna da vida. Para os místicos cristãos e judeus, ela é a mente de Deus, um jogo do Divino, enquanto, para os budistas, o nascimento e a morte são ondas no oceano da consciência: aparecem e logo desaparecem, como um sonho.
Essa verdade está sempre conosco. Quem entra em contato com essa realidade eterna, está curado. Isso acontece quando, perdidos no melodrama da vida, sucumbimos ao medo ou à saudade, ao amor ou ao ciúme, à raiva ou ao júbilo. De repente, ouvimos uma voz dizer: “Essa me pegou!”. Então, damos uma risada e estamos livres.

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