POR QUE WOODY ALLEN É O ARTISTA MAIS BRILHANTE QUE EXISTIU ?

O mundo está dividido em duas categorias. De um lado, Ciência & Tecnologia, do outro, Artes & Humanidades. Não adianta procurar a referência, quem disse isso fui eu mesmo. E mais: toda vez que leio que o homem moderno é intolerante, que o mundo de hoje, mais violento, que as pessoas de uns tempos pra cá têm preguiça de pensar, me doem as cáries. Tudo merda de touro. O homem sempre foi intolerante, o mundo sempre foi igualmente violento, e as pessoas, em geral, morrem de preguiça de pensar. Nem todas, claro. Como regra, as que não têm preguiça, fazem Artes & Humanidades. As intelectualmente limitadas, Ciência & Tecnologia.
O que não significa que Artes & Humanidades sejam melhores. Muito pelo contrário. São piores. Não servem pra nada. Absolutamente nada. Quer ver? Imagine o mundo sem Monet, Beethoven, Nietzsche, Shakespeare, Woody Allen. Conseguiu? Fácil. Agora imagine o mundo sem computador, telefone, água limpa e encanada, marca-passo, stent, lente intraocular, pasta de dente, avião, navio... Sim, eu sei que o mundo já viveu sem isso. Mas agora que tem, não vive sem. O mesmo não pode ser dito a respeito dos citados acima.
Digo isso porque não gosto de Monet, Beethoven, Nietzsche e Woody Allen? Justamente o contrário. Sou perdidamente apaixonado por essas e outras figuras semelhantes. Mas prefiro perdê-las do que tudo aquilo que os intelectualmente preguiçosos me proporcionaram. E por que o fizeram? Porque eles sabem que o ser humano é em geral preguiçoso e perceberam que podem ganhar dinheiro com isso. Com o facilitar, cada vez mais, sua vida. O que os intelectualmente limitados não sabem, entretanto, é o que nós, seres superiores das Artes & Humanidades, estamos cansados de saber. Que todas essas facilidades só servem pra amaciar um pouco a nossa absolutamente sem sentido passagem pela existência. Em toda a sua mediocridade voluntária, os seres inferiores das Ciências & Tecnologia são felizes. Nós, não. Somos desgraçados e cientes disso. Eles, não. Quer dizer, são também desgraçados, só não cientes disso. Ponto pra eles.
Esperta, a turma da Ciência e Tecnologia está infiltrada em todos os lugares. Até nas Artes & Humanidades. Não nas Artes & Humanidades sérias, mas nas pseudo. Livros, músicas, filmes, peças de teatro são produzidos em escala industrial para preguiçosos consumirem. No caso do cinema, todos sabem, Hollywood é a capital da mediocridade. De “Matrix” a “Avatar”, passando pelas comédias românticas, os policiais óbvios, os terrores escatológicos, tudo é feito sob medida para caber no maior número possível de crânios. Tamanho padrão: pequeno.
Ia me esquecendo, há também duas categorias de arte — a filosófica e a ruim. A ruim é a que mal cabe no conceito de arte, como os tipos de filmes citados acima (o que não é, qualquer um sabe, até mesmo os da Ciência & Tecnologia, algo exclusivo do cinema, já que há literatura, pintura, etc., ruins). A filosófica é a que faz pensar. No caso de filmes, Bergman, Buñuel, Tarkovski, Kubrick (pra deixar o Ademir Luiz contente), Kurosawa, Lucrecia Martel, alguns outros que agora esqueço, e, claro, o maior de todos — Woody Allen. Outro dia explico por quê.

Fonte : Flávio Paranhos-http://www.revistabula.com

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