ILUMINAÇÃO : UM ESTADO ALÉM DO PENSAMENTO



 
“Penso, logo existo”. Nessa frase em que é mais lembrado, René Descartes - considerado pai do racionalismo, do método da ciência - parece ter colocado a ênfase de sua filosofia, fazendo coro ao supremo valor que atribuímos ao pensamento.
A faculdade de pensar, não obstante se inicie no reino animal, é certamente o grande instrumento de realização do ser humano. Segundo a Teosofia, a raça humana só começou a existir de fato quando ganhou o dom da mente, na Terceira Raça-Raiz. Isso é simbolizado, por exemplo, no “Mito de Prometeu” (o deus que roubou o fogo dos céus para dá-lo aos homens).
Em “O Poder do Agora” - um dos livros mais vendidos no mundo - Eckhart Tolle apresenta, contudo, uma opinião que parece andar na contramão da história. Contradiz nossa supervalorização do pensar, chegando a denominá-la como “aterrorizante escravidão do pensamento”. Referindo-se a Descartes, Tolle diz que ele cometeu “um erro básico ao equiparar o pensar ao Ser e a identidade ao pensamento”. Em outras palavras, o pensamento seria justamente uma forma de ocultar a realidade do Ser, sua própria existência.
A consciência (ou Espírito) é a fonte do Ser, desenvolvendo-se por meio dos relacionamentos. Como matriz do pensamento, a mente estabelece a comunicação entre os objetos de relacionamento e a consciência. Mas se o pensamento tende a obstruir a percepção do Ser, surge um problema. Como desenvolver a consciência pela ação da mente, sem ocultar o Ser por trás dela? A chave está em uma coisa chamada “pensamento compulsivo”.
“O pensador compulsivo (ou seja, quase todas as pessoas) vive em um estado de aparente isolamento, em um mundo povoado de conflitos e problemas. Um mundo que reflete a fragmentação da mente em uma escala cada vez maior. A iluminação é um estado de plenitude, de estar ‘em unidade’ e, portanto em paz. Em unidade tanto com o universo quanto com o eu interior mais profundo, ou seja, o Ser”, diz Tolle.
A mente é a ponte entre o Eu espiritual e o eu material (ego), entre o Ser e o não-ser. Curvando-nos ao seu império, somos dominados pela ilusão do “não-ser”, que é a matriz do orgulho, da inveja, do sofrimento. Identificando-nos com a mente, passamos a ser usados por ela. Criamos então “uma tela opaca de conceitos, rótulos, imagens, palavras, julgamentos e definições que bloqueia todas as relações verdadeiras. Essa tela se situa entre você e seu eu interior, entre você e o próximo, entre você e a natureza, entre você e Deus”.
Tolle chama a mente de “o pensador”. Logo, ao invés de pensar, somos de fato “pensados”? Essa é a condição do “não-ser” há tanto tempo abordada na filosofia esotérica.
Para resolver isso, “comece a prestar atenção ao que a voz diz, principalmente a padrões repetitivos de pensamento, aquelas velhas trilhas sonoras que você escuta dentro de sua cabeça há anos”, sugere Tolle. O efeito é irmos nos desidentificando da mente, assumindo a posição do observador, da testemunha. O pensamento involuntário vai então perder força e se afastar, porque a mente não mais estará sendo alimentada por nossa energia. Ao contrário, estará sob nosso domínio como maravilhosa ferramenta de criação, e não mais como tirânica senhora.
A observação silenciosa também pode ser endereçada ao interior do nosso corpo (focos de tensão no umbigo, por exemplo), gerando relaxamento e paz. O resultado é o surgimento de um crescente estado de serenidade e alegria dentro de nós. A “alegria do Ser”, segundo Tolle.
Fonte: Walter Barbosa, membro da Sociedade Teosófica
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