TODAS AS MENSAGENS DOS MESTRES VÊM DA MESMA FONTE?





 TODAS AS MENSAGENS DOS MESTRES
VÊM DA MESMA FONTE?

 PRÓLOGO
Conheço várias pessoas adoráveis, sinceramente engajadas na busca espiritual. Algumas participam de vários grupos de estudo, cura e meditação, e dedicam de uma a duas horas por dia a seus 'decretos' e práticas espirituais ditadas pelos "Mestres Ascensos." Tocado pela dedicação e candor dessas pessoas, comecei a pesquisar a respeito dessas doutrinas e práticas que, obviamente, parecem estar fazendo bem a elas. Com todo o respeito e carinho, gostaria de oferecer as observações e considerações a seguir a essas pessoas queridas e a milhares de outros irmãos devotos dos Mestres. Procurei enfocar a questão de forma objetiva, apresentando considerações e sugestões que poderiam ser investigadas por esses sinceros buscadores da verdade.

CONHECIMENTO DOS MESTRES
Até meados do século XIX muito pouco era conhecido no Ocidente sobre os Grandes Seres, chamados no Oriente de Mahatmas, ou Mestres de Sabedoria. No Oriente, principalmente na Índia, os Mestres já eram conhecidos há milênios nos meios dos devotos e iogues. No Ocidente, no entanto, somente uns poucos discípulos aceitos conheciam seus Mestres, guardando essa informação de forma reservada, por respeito a estes Santos Seres e para a proteção deles.
Foi somente a partir do final do século XIX, com a fundação da Sociedade Teosófica e posteriormente com a divulgação dos escritos de H. P. Blavatsky, que o conhecimento da existência dos Mestres se espalhou nos meios esotéricos e filosóficos na Europa e nas Américas. Alguns colaboradores de Blavatsky foram contrários a essa divulgação, em virtude da tradicional reserva observada pelos discípulos com relação a comentários públicos sobre a existência de seus instrutores. Mas os tempos eram outros e os próprios Mestres contribuíram indiretamente para que sua existência fosse amplamente divulgada no Ocidente.

AS CARTAS DOS MESTRES
O principal meio de divulgação da existência e do trabalho dos Mestres foi a publicação, no início do século XX, de uma longa série de cartas escritas pelos Mestres,[2] entre 1880 a 1886, a dois ingleses, A. O. Hume e A. P. Sinnett, sendo a maior parte dirigida a esse último. Sinnett, mais tarde, utilizou o material contido nas cartas para escrever dois livros muito comentados na época: Budismo Esotérico e Mundo Oculto. Os Mestres também enviaram cartas, em menor número, a outros colaboradores seus, sendo muitas destas coligidas e publicadas por C. Jinarajadasa, com o título de Cartas dos Mestres de Sabedoria.[3]
Essas cartas são marcos para o estabelecimento de parâmetros sobre os ensinamentos desses Grandes Seres e para o conhecimento de seus métodos de comunicação com aqueles poucos aspirantes que apesar de não terem sido treinados no caminho ocultista, de alguma forma mereceram recebê-las. Seu valor especial está no fato de serem reconhecidas por quase todos os estudiosos como sendo de autoria dos Mestres. Algumas foram recebidas poucos instantes depois de terem sido "enviadas" por Sinnett, no próprio verso do papel em que as perguntas tinham sido feitas. É importante frisar que a maioria das cartas foi precipitada. O Mahatma K.H. respondendo a Sinnett sobre esse processo disse: "Devo pensar bem, fotografando cuidadosamente cada palavra e frase no meu cérebro antes que possa ser repetida por 'precipitação'."[4] Blavatsky comentou sobre esse processo que: "O trabalho de escrever as cartas em questão é efetuado por um tipo de telegrafia psíquica; os Mahatmas raramente escrevem suas cartas da forma usual. Uma conexão eletro-magnética, por assim dizer, existe no plano psíquico entre um Mahatma e seus chelas, um dos quais age como seu secretário."[5] O curioso é que, não importa qual chela venha a escrever manualmente a carta, a letra será sempre exatamente a do Mestre. Um fato que ainda não foi explicado pela ciência moderna é como a tinta foi colocada, não na superfície do papel, mas no seu interior. Permanece inexplicável, também, como estrias, feitas com a mesma tinta com que a carta foi escrita, foram incorporadas a espaços regulares no papel. Esses e muitos outros detalhes técnicos foram estudados em profundidade por um dos maiores especialistas em grafologia e falsificações, Vernon Harrison,[6] gerente de pesquisas da Thomas De La Rue (equivalente à Casa da Moeda Britânica). Essas cartas encontram-se no Museu Britânico.
A Summit Lighthouse, uma das principais fontes de canalização de mensagens atribuídas aos Mestres Ascensos, confirma a existência e autenticidade destas cartas: "a fundação da Sociedade Teosófica deve-se aos Mestres Morya e Koot Hoomi, que a utilizaram para difundir seus ensinamentos para o Ocidente, em parte por meio de cartas pessoais dirigidas a um punhado de alunos teosóficos."[7]
Apesar do interesse de Sinnett em tornar-se um discípulo aceito do Mestre Koot Hoomi, geralmente referido como K.H., seu principal correspondente, foi-lhe dito que ele não tinha os requisitos para ser um discípulo, ou chela, como são conhecidos na Índia. Seus hábitos de vida e, principalmente, seus condicionamentos mentais, militavam contra a simplicidade e disciplina necessárias à vida de um chela. Sem essa disciplina e reorientação de vida, seria impossível para ele passar nos duros testes a que todos os discípulos são submetidos.[8] Noutra ocasião, explicando a natureza do treinamento dos discípulos e como eles deviam arcar com as conseqüências de seu carma, disse: "Não guiamos nunca nossos chelas (mesmo os mais avançados) nem os advertimos previamente, deixando que os efeitos produzidos pelas causas que eles próprios criaram, lhe ensinem pela melhor experiência."[9] Ao solicitar uma comunicação direta com o Mestre sem comprometer-se a nenhuma mudança em sua vida, recebeu como resposta: "Aquele que quiser erguer alto a bandeira do misticismo e proclamar que o seu reino está próximo tem que dar o exemplo aos outros. Ele deve ser o primeiro a mudar os seus próprios modos de vida."[10]


OUTRAS FONTES DE INFORMAÇÕES SOBRE OS MESTRES
A partir de então, a literatura esotérica em geral e a teosófica em particular, passou a referir-se extensamente aos Mestres. Informações esparsas divulgadas por alguns de seus discípulos eram repetidas nos círculos esotéricos, nem sempre com a exatidão devida, contribuindo para a criação de certas lendas e imagens distorcidas sobre esses Grandes Seres. Esta situação foi amenizada a partir de 1925, com a publicação do livro, Os Mestres e a Senda. Seu autor, C. W. Leadbeater, era discípulo do Mestre K.H. Leadbeater conhecia pessoalmente seu Mestre bem como alguns outros membros da Grande Hierarquia Branca, como a Fraternidade destes Grandes Seres é geralmente conhecida. A obra ajudou a colocar muitos fatos em perspectiva. Leadbeater, era um vidente avançado, conseguindo comunicar-se com vários Mestres, tanto no plano físico como em outros planos. Por ser um discípulo Iniciado, teve acesso direto a um grande número de informações até então desconhecidas no Ocidente. Dentre as revelações de seu livro vale a pena mencionar a estrutura da hierarquia dos Mahatmas, seu modo de operação no mundo e seu processo de treinamento de discípulos.
Por outro lado, várias entidades do astral começaram a enviar mensagens atribuídas aos Mestres. Essas comunicações geralmente oferecem mensagens calcadas em palavras de solidariedade humana e amor ao próximo. Muitas chamam a atenção para uma eminente crise que deverá se abater sobre nosso planeta se os homens não se regenerarem e atenderem aos apelos dos Mestres para uma mudança de vida. Para aqueles que conhecem a literatura espírita, essas comunicações atribuídas aos Mestres guardam um estreito paralelo com as comunicações de entidades desencarnadas, os "espíritos", que desde o século XIX vêm sendo recebidas por intermédio de médiuns em diversos países.
Em virtude do teor aparentemente benéfico dessas comunicações, muitas pessoas poderiam questionar, por que nos preocuparmos com a autoria dessas mensagens. Se elas estão estimulando as pessoas para uma vida mais ética e amorosa, o que importa se essa atribuição aos Mestres é correta ou não? Devemos nos lembrar que o objetivo da vida espiritual é o conhecimento da verdade, objetivo esse indicado por Jesus quando nos disse: "Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará." (Jo 8:32) Mas não é só isso. Apesar do teor adocicado das mensagens em pauta, elas trazem em seu bojo três grandes perigos de distorção: sobre a maneira como os Mestres atuam no mundo, a natureza do progresso espiritual dos discípulos e alguns aspectos da vida oculta.

RELACIONAMENTO E COMUNICAÇÃO ENTRE MESTRE E DISCÍPULO
Em primeiro lugar, a atribuição dessas mensagens aos Mestres cria uma idéia errônea sobre o método de operação dos Mahatmas no mundo. Provavelmente ainda são válidas as palavras do Mestre K.H. enviadas a Sinnett e aos teosofistas europeus no século XIX: "Nenhum de vocês jamais conseguiu formar uma idéia acurada dos 'Mestres' ou das leis do Ocultismo pelas quais eles são guiados."[11] Os Mestres sempre indicaram que sua latitude para ação no mundo material é consideravelmente limitada e que agem, via de regra, por meio de seus discípulos no mundo e não por meio de comunicações bombásticas ou de fenômenos para-normais, geralmente chamados de milagres.
Isso ficou claro no caso clássico de Sinnett que, ao longo de sua extensa correspondência, instou os Mestres a demonstrarem cabalmente ao mundo sua existência por meio de algum fenômeno incontestável, como a materialização de um exemplar do jornal The Pioneer em Londres, no mesmo dia de sua publicação na Índia, e do Times em Simla, na Índia, no mesmo dia de sua publicação em Londres, o que, em virtude dos meios de transporte da época, esse feito seria um verdadeiro "milagre." O Mestre K.H. pacientemente explicou a Sinnett: "Justamente porque o teste com o jornal de Londres fecharia a boca dos céticos – ele é impensável... A verdade é que nós trabalhamos usando leis e meios naturais e não sobrenaturais... Você diz que metade de Londres seria convertida se você pudesse entregar ao público de lá o jornal Pioneer no mesmo dia da sua publicação. Permita-me dizer que, se as pessoas acreditassem que a coisa era verdadeira, elas o matariam antes que pudesse dar uma volta no Hyde Park, e se elas não acreditassem, o mínimo que poderia acontecer seria a perda da sua reputação e de seu bom nome, por propagar tais idéias[12]." O Mestre continuou a carta por várias páginas, apresentando seus argumentos com extrema sabedoria e lucidez, provando a Sinnett que a experiência milenar da Fraternidade comprova que a humanidade sempre resiste aos fenômenos que não consegue explicar, endeusando ou matando aqueles que os apresentam.
 Os Mestres, portanto, agem no mundo através de seus discípulos. Projetos, mensagens ou ações que desejam realizar para a humanidade são efetuados por seus colaboradores no mundo material, sendo atribuídos a esses colaboradores. Esse é um ponto básico, como podemos verificar com obras 'inspiradas' como Luz no Caminho, A Doutrina Secreta e tantas outras, que são sempre publicadas em nome do discípulo. O Mestre solicita ou inspira seu discípulo a agir da forma desejada. Mas, deve ficar claro aqui, que o Mestre quando muito solicita, sem jamais atropelar ou forçar o livre arbítrio do ser humano. Os irmãos das trevas agem de forma diferente, manipulando, hipnotizando ou forçando as pessoas, de uma forma ou outra, sem respeitar sua vontade própria.[13] Para os agentes das trevas os fins justificam os meios, para os Seres de Luz isso seria inadmissível.
Dentro desses parâmetros, e levando em conta a experiência dos membros da Fraternidade, acumulada ao longo de inúmeros milênios de atuação no mundo, os Mestres sabem exatamente o que pode ser feito e o que deve ser feito para ajudar cada indivíduo no seu estágio atual de evolução. Jamais agem baseados em personalismos e preferências, mas sempre de acordo com os méritos das pessoas, de suas condições cármicas e das oportunidades para estender o maior benefício ao maior número possível de pessoas, por meio das ações a serem realizadas por seus colaboradores no mundo.
Quando estudamos o maravilhoso trabalho dos Mestres, podemos imaginar que o mundo seria totalmente diferente se uma grande parte da humanidade conhecesse esses Grandes Seres. Isso nos levaria a pensar que um movimento de conscientização popular do trabalho dos Mestres poderia ser um grande facilitador para a evolução. Somos informados, porém, que justamente o contrário é verdadeiro. A última carta escrita pelo Mestre K.H, em 1900, a Annie Besant, então Presidente da Sociedade Teosófica, urgia ação muito específica a esse respeito: "Muito poucos são aqueles que podem saber qualquer coisa a nosso respeito... O falatório acerca dos 'Mestres' deve ser silenciosa mas firmemente eliminado. Que a devoção e o serviço sejam somente para aquele Supremo Espírito, do qual cada um é uma parte. Nós trabalhamos anônima e silenciosamente, e a contínua referência a nós mesmos e a repetição de nossos nomes gera uma aura confusa que atrapalha nosso trabalho."[14]

MÉTODOS DE COMUNICAÇÃO DOS MESTRES
Convém esclarecer os métodos conhecidos pelos quais os Mestres capacitam seus discípulos a transmitir informações e ensinamentos ao mundo. A tradição esotérica sugere que os Mestres geralmente usam dois métodos para transmitir informações que gostariam de divulgar à humanidade. No caso de uma obra que no atual estágio evolutivo da humanidade pode agora ser divulgada, mas que deve ser transmitida absolutamente sem erros, geralmente imprimem telepaticamente o texto na mente do discípulo para que esse, por sua vez, possa escrevê-lo de forma correta. Esse parece ter sido o caso da obra Luz no Caminho, escrita por Mabel Collins no século XIX. De acordo com Leadbeater, em casos excepcionais, os Mestres podem até ditar a mensagem a ser transmitida: "Há casos, em que uma incumbência de grande importância é ditada palavra por palavra, e anotada no plano físico, na hora, pelo recipiendário, mas tais casos são sumamente raros."[15]
O outro método, geralmente usado com discípulos mais avançados, é a transmissão telepática de informações, conceitos e idéias, deixando por conta do discípulo a formulação do texto final de acordo com seus dons intelectuais e literários. Essas transmissões geralmente ocorrem no plano mental abstrato ou no búdico (intuitivo). Lembramos que nos planos superiores, as comunicações não são realizadas por palavras, como em nosso mundo. Os conceitos são expressos de uma forma simbólica sintética, e devem ser "decodificados" ou "traduzidos" em palavras, pela mente concreta, para serem inteligíveis em nosso plano.
Um exemplo clássico das comunicações por meio de discípulos avançados é o conhecido trabalho de Blavatsky A Doutrina Secreta. Ela era capaz de recolher informações dos registros akáshicos, ler à distância textos que se encontravam em outros lugares (como na biblioteca secreta do Vaticano) e receber comunicações de diferentes Mestres colaborando na obra. Porém, a tarefa não era meramente a de receber um ditado, mas sim a de compor, com suas próprias palavras o texto a ser produzido. A Condessa de Wachtmeister, sua companheira constante durante o período em que escreveu A Doutrina Secreta, relata que, um dia: "... ao entrar no gabinete de Blavatsky, encontrei o chão coberto de folhas manuscritas. Perguntei a razão desse aspecto de confusão e ela respondeu: - Sim, tentei doze vezes escrever esta página corretamente e toda vez o Mestre diz que está errado. Acho que vou ficar louca, escrevendo-a tantas vezes; mas deixe-me sozinha; não descansarei enquanto não o conseguir, ainda que tenha de ficar aqui a noite toda. Uma hora mais tarde ouvi sua voz me chamando e, ao entrar, verifiquei que havia, finalmente, concluído o trecho e de maneira satisfatória."[16]

COMUNICAÇÕES CANALIZADAS ATRIBUÍDAS AOS MESTRES
A principal consideração que nos levou a alertar os estudantes de ocultismo para o perigo dessas comunicações, apesar de seu caráter aparentemente beneficente, é o fato delas conterem muitas distorções e, até mesmo, erros factuais e conceituais. Isso sugere que a grande maioria, se não a quase totalidade dessas mensagens provavelmente não é de autoria dos Mestres. Numa de suas cartas, K.H. disse a Sinnett que não era possível a comunicação com ele por meio de médiuns. "Você quer saber por que é considerado extremamente difícil, se não completamente impossível para os Espíritos puros desencarnados se comunicarem com os homens através de médiuns ou Fantasmasofia. Eu digo que é: (a) devido às atmosferas antagônicas que envolvem respectivamente esses mundos; (b) por causa da diferença extrema que há entre as condições fisiológicas e espirituais; e (c) porque essa cadeia de mundos sobre a qual falei a você não é somente um epiciclóide, mas uma órbita elíptica de existências, tendo como toda elipse não um, mas dois pontos, dois focos, que nunca podem se aproximar um do outro. O homem está em um dos focos, e o Espírito puro no outro."[17]
Em outras palavras, as entidades do astral não são confiáveis como instrutores. Com exceção dos pouquíssimos Nirmanakayas[18] que atuam no astral para o benefício daqueles que estão de passagem naquele plano, a grande maioria dos habitantes do astral que enviam mensagens para pessoas encarnadas por intermédio de médiuns, já perderam seus princípios superiores e estão em processo de decomposição. No entanto, devido às características especiais daquele plano, essas entidades, melhor conhecidas como cascões, ou cadáveres astrais, retêm parte de sua memória passada e podem, além disso, entrar em sintonia com as emoções e pensamentos das pessoas envolvidas na sessão mediúnica. Por essa razão podem enviar mensagens baseadas em sua memória do passado bem como no conhecimento atual dos encarnados que participam da sessão. Por isso, as mensagens tendem a refletir a expectativa dos recipiendários, sendo geralmente aceitas, apesar de não acrescentarem nada de novo em termos de ensinamentos.
O Mestre K.H., respondendo a uma pergunta de Sinnett, que sempre mostrou grande interesse pelos processos mediúnicos, alertou: "Naquele mundo (o astral), meu bom amigo, nós só encontramos máquinas ex-humanas, inconscientes e autômatas; almas em estado de transição, cujas faculdades e individualidades adormecidas estão como uma borboleta em sua crisálida; e os Espíritas esperam que elas falem com sensatez! Colhidas em certas ocasiões pelo vórtice da corrente anormal "mediúnica", elas se tornam ecos inconscientes de pensamentos e idéias cristalizadas em volta dos que estão presentes."[19]
Em inúmeras ocasiões os Mestres alertaram seus correspondentes sobre os perigos das comunicações mediúnicas em geral, e da virtual impossibilidade deste meio ser utilizado pelos Adeptos para suas comunicações com seus colaboradores. Porém, deixaram claro que muitas comunicações espúrias do astral seriam atribuídas a eles. "Pode ocorrer que em função de objetivos próprios nossos, médiuns e seus fantasmas sejam deixados à vontade e livres não só para personificar os "Irmãos", mas até mesmo para forjar nossa letra manuscrita."[20] Esse ponto deve ser levado em consideração nas mensagens atribuídas aos Mestres. Todos os grandes reformadores espirituais alertam para esse fato. Jesus, por exemplo, disse: "Guardai-vos dos falsos profetas, que vêm a vós disfarçados de ovelhas, mas por dentro são lobos ferozes" (Mt 7:15).
Examinemos, agora, algumas das distorções e erros apresentados em certas comunicações atribuídas aos Mestres. Uma das mais citadas e que provocou considerável impacto nos meios esotéricos foram as obras de Alice A. Bailey. Ao longo de quase trinta anos (1922 a 1949), Alice Bailey produziu 24 obras, sendo 18 delas atribuídas a uma entidade, por muito tempo referida simplesmente como "O Tibetano". Nos últimos anos de suas atividades literárias Bailey deixou escapar, ou deu a conhecer, os fatos não são muito claros, que "O Tibetano" era o Mestre Djwal Khul, que havia ajudado o Mestre K.H. no trabalho da Sociedade Teosófica no século XIX. Alice Bailey tinha uma mente brilhante e destacou-se rapidamente nos meios teosóficos, chegando a atuar como coordenadora da sessão esotérica da Sociedade Teosófica nos Estados Unidos. Acabou deixando a S.T. para fundar sua Escola Arcana, que ministrava por correspondência ensinamentos esotéricos, baseados nas instruções atribuídas ao Tibetano.
Suas obras, escritas num estilo literário um tanto convoluto, que tornava os assuntos tratados muito mais complicados e aparentemente mais profundos, exerceram grande influência nos meios esotéricos, sendo muito citadas. Com a repetição das citações as informações apresentadas em suas obras foram adquirindo uma aura de respeitabilidade inquestionável. Os estudantes de esoterismo que são submetidos a esse bombardeio de informações de fontes aparentemente fidedignas, depois de certo tempo, têm dificuldade para separar o joio do trigo.
O autor deste ensaio pode falar sobre esta questão com conhecimento de causa, pois foi estudante da Escola Arcana por cerca de cinco anos, recebendo o material de instrução diretamente da sede da Escola em Nova Iorque. Se por um lado o material era atraente em vista da profusão de informações de cunho esotérico, continha vários pontos que pareciam questionáveis.
Só consegui livrar-me do terrível emaranhado de dúvidas e questionamentos em que estava enredado, quando vim a saber que Alice Bailey somente teria tido inspiração do Mestre Djwal Khul para suas três primeiras obras: Cartas sobre Meditação Ocultista, Iniciação Humana e Solar, e Tratado sobre Fogo Cósmico. A ajuda e inspiração interior do Mestre Djwal Khul lhe teria sido retirada pelo fato de usar aquelas obras e as atividades da Escola Arcana para propagar suas idéias e preconceitos religiosos adquiridos na infância e durante os anos em que trabalhou como evangelizadora da Igreja Anglicana na Inglaterra, Irlanda e Índia[21].
Bailey acreditava literalmente no retorno de Cristo para o estabelecimento de Seu Reino na Terra por mil anos. Esse foi o principal ponto que teria provocado a ruptura com seu Instrutor, a insistência em seus livros e palestras de que toda a Hierarquia estava engajada no trabalho de preparação para o "iminente retorno do Cristo". Apesar de aproximadamente oitenta anos terem se passado desde que começou a pregar sobre o "iminente" retorno, a chegada de Cristo em nosso sofrido planeta ainda é uma promessa a ser cumprida, pelo menos no sentido em que sempre foi entendida pelos fundamentalistas, ou seja, de forma corpórea e com toda Sua glória externa. Com a retirada da inspiração do Mestre Djwal Khul, não se sabe que entidade apareceu para ocupar o vazio criado na comunicação psíquica de Alice Bailey, mas seus livros subseqüentes indicam uma certa mudança de estilo e passaram a apresentar cada vez mais detalhes curiosos sobre a vida esotérica e o trabalho da Hierarquia.

OS MESTRES "ASCENSOS"
A partir da década de trinta, do século XX, começou a aparecer um tipo especial de comunicação canalizada, dessa vez referindo-se aos Mestres "Ascensos". Ao que tudo indica, essas comunicações começaram com as mensagens transmitidas por intermédio de Guy Ballard. As comunicações de Ballard começam com os detalhes do que teria sido seu primeiro encontro com o Mestre Saint Germain, no Monte Shasta, na California. Informou que de lá foi levado em seu corpo sutil, pelo Mestre, ao retiro de Monte Teton, escondido dentro daquela montanha em Wyoming, EUA. A partir de então suas experiências foram relatadas em diversos livros, como: Mistérios Desvelados, A Presença Mágica, Os Discursos EU SOU, Instruções de um Mestre Ascenso e O Amado Saint Germain Fala. Por ocasião de sua morte, no Retiro de Royal Teton, teria finalmente ascendido, passando a ser conhecido como o amado Mestre Ascenso Godfre.
O trabalho de Ballard parece ter aberto a caixa de Pandora de onde saíram uma infinidade de outras comunicações atribuídas aos Mestres Ascensos. Uma busca na internet revelará a variedade de materiais existentes sobre esse assunto. Essas comunicações foram "canalizadas" não só por sensitivos americanos, mas também de outros países, inclusive do Brasil. Seria impossível, dentro do escopo deste ensaio, tentar apresentar algo do trabalho de todos esses sensitivos ou mesmo dos mais representativos. Procuraremos, no entanto, apresentar as linhas gerais dos ensinamentos transmitidos por esses diferentes canais, pois guardam considerável semelhança.
Antes, seria útil mencionar alguns dos grupos ou movimentos criados em função dessas comunicações. Os mais conhecidos são:
·         O Movimento EU SOU
·         Ponte para a Liberdade
·         Vahali
·         Fraternidade Pax Universal
·         Centro Lusitano de Unificação Cultural
·         Fraternidade dos Guardiões da Chama
·         A Fundação Saint Germain
·         O Templo da Presença
·         Fundação para o Ensinamento do Mestre Ascenso
·         The Summit Lighthouse.
Vale mencionar que, após as comunicações de Ballard, talvez os movimentos com maior repercussão tenham sido a Ponte para a Liberdade e a Summit Lighthouse (Farol do Cume), ambos fundados nos Estados Unidos, passando a atuar em vários países, inclusive no Brasil. Parte das informações sobre esses grupos apresentadas a seguir, em forma resumida, foi retirada de folhetos, páginas da net e livros da Summit Lighthouse do Brasil.
Em primeiro lugar, o que é um Mestre Ascenso? Um Mestre Ascenso seria um iniciado que alcançou a Sexta Iniciação que, para esses grupos, é tida como a Iniciação equivalente na tradição cristã à Ascensão de Cristo aos Céus para ficar à direita do Pai. De acordo com essa linha, a Primeira Iniciação seria simbolizada pelo Nascimento do Cristo, a Segunda pelo Seu Batismo, a Terceira pela Transfiguração, a Quarta pela Crucificação, a Quinta pela Ressurreição e a Sexta pela Ascensão. Parece ter havido uma certa confusão nesta codificação das iniciações. Até a Terceira, as Iniciações como simbolizadas pela vida de Cristo conferem com a visão de outros autores.[22] As diferenças aparecem a partir da Quarta Iniciação, já que os eventos da Crucificação e da Ressurreição, que para a linha dos Mestres Ascensos constituiriam iniciações separadas, sempre foram considerados pelos estudiosos do Cristianismo Esotérico como dois aspectos da mesma iniciação. "Na simbologia cristã a Quarta Iniciação está representada pelas angústias sofridas no horto de Gethsêmane, a crucificação e ressurreição de Cristo."[23] A crucificação e a ressurreição representariam, assim, os dois lados da mesma moeda, ou seja, a morte do homem velho e o nascimento do homem novo de que fala Paulo. A tradição dos Mistérios egípcios descrevia essa Iniciação ocorrendo numa cripta. Nela, o candidato era atado sobre uma cruz de madeira, induzido a um transe profundo, equivalente à morte, descendo então aos mundos inferiores em seus corpos sutis, para finalmente ser desperto, ou "ressuscitado" pelo Hierofante no terceiro dia.
A Quinta Iniciação, de acordo com a tradição esotérica, constituiria a última iniciação do ciclo humano. A partir de então, os Adeptos passam a trilhar uma nova Senda, incompreensível para a nossa experiência humana. Nas palavras de Leadbeater, "O Adepto realizou o propósito através daquilo que o fez homem, e assim dá agora o passo final que o torna Super-homem – Ashekha, como o chamam os budistas, pois ele nada mais tem a aprender e exauriu as possibilidades do reino humano da natureza... No simbolismo cristão, a Quinta Iniciação é representada pela Ascensão de Cristo e a vinda do Espírito Santo em línguas de fogo, que corresponde à entrada no Adeptado, porque o Adepto ascende a uma esfera superior à humanidade e muito além da terra."[24]
As comunicações dos Mestres Ascensos contêm incontáveis detalhes sobre a vida dos Mestres, suas encarnações anteriores, os retiros onde vivem, os projetos em que estão engajados, e os dons e poderes divinos que operam em prol da realização do grande plano divino. O estudante de esoterismo não cessa de se maravilhar com as informações de caráter oculto oferecidas. As mudanças na estrutura da Hierarquia são relatadas em todos seus detalhes. Somos informados que Sanat Kumara, o Senhor do Mundo, foi convencido a deixar seu posto supremo na Hierarquia, em favor do Senhor Buda. Com isso várias mudanças ocorreram na estrutura hierárquica.
"Em 1º de janeiro de 1956, numa cerimônia realizada no Retiro de Royal Teton (de forma surpreendente nos Estados Unidos e não em seu tradicional reduto nas regiões trans-Himalaias), Gautama sucedeu a Sanat Kumara no cargo de Senhor do Mundo e Maitreya sucedeu a Gautama nos cargos de Cristo Cósmico e Buda Planetário, passando o manto de Instrutor do Mundo aos candidatos a esse cargo, Jesus Cristo e Kuthumi." Parece estranho que agora existam dois Instrutores do Mundo, sendo um, o Mestre Jesus, do Sexto Raio, apesar desse cargo ser sempre ocupado por um Mestre do Segundo Raio, pois esse reflete a energia divina utilizada nessa função. Com isso outros espaços teriam sido abertos nos cargos de Chohans dos Raios. O Mestre Ascenso Lanto teria assumido o cargo de Chohan do Segundo Raio. Somos informados que Lanto "alcançou sua mestria quando estudava sob a orientação do Senhor Himalaia, Manu da Quarta Raça Raiz, cujo Retiro do Lótus Azul está escondido nas montanhas que levam o seu nome." Outra promoção relatada é a da Mestre Ascensa Nada, que assumiu o Sexto Raio, com a transferência de Jesus, conjuntamente com Koot Hoomi, para o cargo de Instrutor do Mundo.
Ao que parece, a Hierarquia passou, no século XX, a refletir nos planos espirituais os anseios de melhor representatividade de sexos e raças da era atual. Além da Mestra Ascensa Nada, somos informados que a Mestra Ascensa Kwan Yin, que teria precedido o Mestre Ascenso Saint Germain como Chohan do Sétimo Raio, tornou-se um dos sete Mestres Ascensos que atuam no Conselho do Carma, trazendo assim um melhor equilíbrio para a polaridade negativa na dispensação da misericórdia e justiça divina. Até a minoria negra (nas Américas, onde foram feitas essas revelações), obteve uma fatia do poder. "O Mestre Ascenso Afra tornou-se o primeiro Mestre Ascenso da África, passando a ser o patrono da África e da raça negra." Por outro lado, o caráter predominante anglo-saxão da Hierarquia fica patente pelos cabelos louros dos Mestres nas fotografias que são apresentadas  no livro: Senhores dos Sete Raios de Mark e Elizabeth Prophet, e nas páginas da WEB da Summit Lighthouse do Brasil. Aparecem com cabelos louros: Jesus, Paulo Veneziano, Saint Germain, Nada e Maria mãe de Jesus. Uma última curiosidade: provavelmente refletindo o axioma hermético de que o que está em baixo é como o que está em cima, encontramos na Hierarquia um misterioso ser descrito como K-17, que seria o Diretor do Serviço Secreto Cósmico.[25]
Com a entrada da Era de Aquário, os Mestres teriam informado que uma aceleração estaria ocorrendo no processo evolutivo da humanidade. Para ajudar nessa aceleração a Mestre Ascensa Nada teria concedido a dispensação da Ciência da Palavra Falada e o Mestre Ascenso Saint Germain o poder para toda a humanidade transmutar seu carma negativo por meio da Chama Violeta. Os procedimentos para a utilização desse novo instrumental são explicados exaustivamente em inúmeras comunicações de diferentes Mestres. A ajuda parece ser tão poderosa que o discípulo que proceder de acordo com as instruções ministradas, poderia "ascender" numa só vida.
É dito que um discípulo inteiramente dedicado pode passar da Terceira Iniciação para a Ascensão (Sexta) em seis anos de vida rigorosamente de acordo com a nova dispensação. A razão pela qual o Caminho tornou-se tão mais fácil, comparado com o das antigas tradições, é que com a nova dispensação, "Um Mestre Ascenso precisaria transmutar ao menos 51 por cento de seu carma e receber as iniciações do Raio Rubi no ritual da Ascensão."
Os Mestres Ascensos conferem grande atenção à Ciência da Palavra Falada. Essa ciência ter-se-ia originado no momento da manifestação do Universo, pois, no princípio "Deus disse: 'Haja luz' e houve luz" (Gn 1:3). Para esse ato criador Deus não pensou nem meditou, mas sim disse, 'haja luz'. O poder do Verbo é a energia mais poderosa de toda a manifestação. Os Mestres Ascensos ajudaram o homem moderno a "resgatar a Ciência da Palavra Falada, utilizada há 12 mil anos atrás nos templos sagrados da Lemúria e da Atlântida."[26]
A Ciência da Palavra Falada é operacionalizada por meio de decretos. O homem, a quem Deus outorgou o poder de ser também um criador, deve ordenar por decreto às hierarquias criadoras, presididas pelos anjos e arcanjos, especificamente o que deseja realizar. O decreto é, portanto, "o poder do Verbo na solução de problemas e elevação da alma." Foi revelado que: "o decreto é a mais poderosa das petições à Divindade. É uma ordem, proferida pelo filho ou filha de Deus em nome da Presença do EU SOU e do Cristo, para que a vontade do Todo-Poderoso seja manifestada, assim em baixo como no alto. É o meio pelo qual o reino de Deus se torna realidade aqui e agora, usando o poder da Palavra Falada."[27]
Somos informados que o ser humano deve ter fé no poder dos decretos, pois "A lei cósmica afirma que as idéias expressas em palavras tornam-se obrigatoriamente realidade quando são proferidas em nome de Deus e pela autoridade da chama de Cristo."[28] Para aumentar o incentivo ao uso da Ciência da Palavra Falada, o Senhor Maitreya teria anunciado por ocasião de uma conferência, realizada em Washington, D.C., em 01/07/1961, que: "De hoje em diante, todo decreto que proferirdes será multiplicado pelo poder de dez mil-vezes-dez mil"[29], ou seja, será cem milhões de vezes mais forte.
O outro instrumento utilizado pelos Mestres Ascensos para acelerar a evolução da humanidade é a utilização da poderosa energia da chama violeta para a transmutação das negatividades. A esse respeito os Mestres teriam declarado: "A dispensação permitindo que a chama violeta fosse posta à disposição dos discípulos neste século foi concedida pelos Senhores do Carma porque Saint Germain compareceu perante esse augusto conselho para advogar, como defensor da humanidade, a causa da liberdade." "A chama violeta perdoa à medida que liberta, consome à medida que transmuta, elimina os registros do carma do passado (saldando assim as vossas dívidas para com a vida), uniformiza o fluxo de energias entre vós e os outros, e impele-vos para os braços do Deus vivente." "Venho esta noite, em nome de Deus, para declarar a todos os homens que a vida eterna é mantida pelo poder da chama violeta! Compreendeis o que isso significa, amados? Significa que o uso da chama violeta e do fogo sagrado dá a todos os homens o passaporte para a vida eterna, e não há outro meio de obterem a liberdade."[30]
Numa série de comunicações mais recentes, a Mestra Ascensa Kwan Yin teria concedido à humanidade sofredora um poderoso método de cura, que veio a ser conhecido como Magnified Healing (Cura Magnificada). Essa modalidade de cura seria antiqüíssima, sendo que antes de 1983 só era usada nas dimensões superiores pelos Mestres Ascensos. Em 1992, pela intervenção direta da Mestra Kwan Yin, a Cura Magnificada do Deus Supremo do Universo teria sido facultada em sua forma expandida para o avanço espiritual da humanidade e da Terra. Com a disseminação desse processo de cura, já existem mais de 21 000 iniciados neste método em 52 países.
Magnified Healing foi dispensada originalmente a duas co-originadoras americanas: Kathryn Anderson e Gisèle King. Kathryn é uma Ministra Ordenada e mestre em Reiki, sendo uma Instrutora de instrutores. Gisèle é uma curadora, Ministra-Diretora do Movimento da Fraternidade Universal e mestre em Reiki.
Kathryn e Gisèle teriam recebido as Chaves finais da Ascensão aceitando o manto de Instrutoras-Mestras de Magnified Healing do Deus Supremo do Universo, por meio da Mestra Kwan Yin. A 3ª Fase do método de Cura da Luz ter-lhes-ia sido dada pelo Arcanjo Melchizedek, no final do ano de 1996.

AVALIAÇÃO DAS DOUTRINAS E PRÁTICAS
Avaliação é uma coisa séria. Para minimizar os perigos de possíveis erros de apreciação das práticas e conceitos apresentados na literatura canalizada sobre os Mestres Ascensos, procurarei ater-me aos fatos mais relevantes, sobre os quais as informações disponíveis permitem um nível aceitável de segurança nessa avaliação.
Em primeiro lugar, os seguidores dos Mestres Ascensos enfatizam práticas exteriores em detrimento da interiorização. Para entendermos o perigo dessa distorção devemos recordar que os dois esteios da vida espiritual são a autotransformação e a sintonia crescente com Deus. Para isso é indispensável a introspecção, ou seja, a mudança de foco do exterior para o interior. A auto-análise e a meditação são as práticas mais usadas para esses fins. Os seguidores dos Mestres Ascensos, no entanto, devotam horas às práticas externas sobrando pouco tempo, entusiasmo e convicção para as práticas internas, principalmente a meditação. Leadbeater, em suas considerações sobre o caminho iniciático, indica que um dos três obstáculos para a Segunda Iniciação é a superstição, que "inclui todas as espécies de crenças irracionais e errôneas, entre elas a de que os ritos e cerimônias externas são necessários para a purificação do coração. O Iniciado verifica que todos os métodos que nos são oferecidos pelas grandes religiões, tais como orações, sacramentos, peregrinações, jejuns e a observância de múltiplos ritos e cerimônias, não passam de meios auxiliares, e o homem prudente adotará disso o que ele achar útil para si, porém jamais considerará qualquer deles como suficiente para alcançar a salvação. Ele sabe definitivamente que tem de buscar a libertação em seu interior."[31]
A Ciência da Palavra Falada é a principal prática espiritual dos seguidores desse movimento. Realmente o Som, também referido como o Verbo, o Logos e a Palavra, é a energia mais poderosa do Universo. No entanto, o Som primordial, que deu início à manifestação do Universo, não pode ser tomado como uma palavra pronunciada por Deus, no sentido em que nós humanos a utilizamos no plano físico. Na realidade, Deus não é uma pessoa com boca e cordas vocais que pronuncia essa ou aquela palavra. Portanto, quando é mencionado em Gênesis que Deus disse: "Haja luz", algo simbólico está sendo comunicado a nós seres humanos, incapazes que somos de alcançar com nossa limitada mente concreta o que ocorreu no Imanifestado ao gerar o mais elevado plano espiritual da manifestação. Naquele momento, a ordem divina "ecoou" numa dimensão do espaço inteiramente diferente do nosso mundo, fazendo com que a vibração repercutisse de uma forma tal, que nós só poderíamos concebê-la, em termos de nossa experiência, chamando-a de Palavra de Deus. Reiteramos que quando tomamos as passagens da Bíblia em seu sentido literal estamos sujeitos a tirar conclusões inteiramente errôneas. Todas as escrituras sagradas são coletâneas de ensinamentos profundos velados pela linguagem da alegoria e do símbolo.[32]
Em alguns casos encontramos distorções sutis, como na mensagem a seguir, atribuída ao Senhor Maitreya: "Vários sistemas de meditação ióguica oferecem métodos para acalmar a mente do homem e produzir uma maior sintonia com o Divino. Alguns desses métodos tornaram-se arriscados quando aplicados pelo homem ocidental, pois exigem do praticante uma grande disciplina mental e espiritual. Os decretos, por outro lado, são relativamente simples de dominar uma vez compreendidos os princípios básicos, e muito mais eficazes."
Os métodos ióguicos "arriscados" são aqueles que envolvem a movimentação de energias, como o pranayama, o laya ioga, o kundalini ioga e o tantra ioga. No entanto, a sabedoria milenar, conhecendo esses perigos, estabeleceu a tradição de só transmitir a totalidade da prática por meio de um guru devidamente capacitado, que acompanha os primeiros exercícios de seu discípulo para assegurar que eles sejam realizados de forma correta e em segurança. Ainda que alguns livros pareçam ensinar algumas dessas práticas, ficam faltando sempre alguns passos fundamentais que só são transmitidos de boca a ouvido.
Também não nos parece correta a afirmação de que o decreto seja a forma mais elevada de comunicação com Deus, como sugerido na seguinte passagem: "Essa ciência milenar (a Ciência da Palavra Falada) combina oração, meditação e visualização com decretos poderosos – e é um avanço em relação a todas as formas de oração usadas no Oriente e no Ocidente." Os verdadeiros iogues e os místicos de todas as tradições sabem, por experiência própria, que justamente o oposto é correto. A oração falada sempre foi considerada a mais simples de todas as preces. A mais poderosa é a oração do silêncio, ou contemplação, em que o silêncio se estende até mesmo à mente. Os místicos conseguem por meio da contemplação alcançar a união com O Bem Amado, como descrito na obra clássica Castelo Interior ou Moradas, de Teresa de Ávila.[33] Esse também é o propósito central do ioga, a aquietação dos processos mentais, descrita na celebrada obra Ioga Sutras de Patanjali,[34] para que o iogue alcance o samadhi, ou união com Atma. "Deus é silêncio em vez de discurso. A coisa mais bela que o homem pode dizer de Deus é que, conhecendo Suas riquezas interiores ele torna-se silencioso. Portanto, não seja tagarela com Deus."[35]
Muitos cristãos surpreendem-se ao saber que a "oração do silêncio" foi ensinada por Jesus, há dois mil anos, como atesta a passagem: "Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto e, fechando tua porta, ora ao teu Pai que está lá, no segredo; e o teu Pai, que vê no segredo, te recompensará" (Mt 6:6). Como a linguagem da Bíblia é simbólica, a seguinte interpretação é sugerida: entrar em nosso quarto, significa entrar em consciência na câmara secreta do coração. Fechar a porta, significa desligar-se dos ruídos do mundo e da mente. Orar ao Pai que lá se encontra, significa nos sintonizarmos com a Presença de EU SOU em nosso coração. Orar em segredo, significa aquietar a mente e permitir que no silêncio que se segue, possamos ouvir a Deus, e não nossas próprias palavras e pensamentos. Finalmente, a recompensa prometida, é sermos admitidos à Sua Presença.
Quanto à prática de repetição de decretos em voz alta, talvez outra orientação de Jesus apresentada no Sermão da Montanha seja pertinente: "Nas vossas orações não useis de vãs repetições, como os gentios, porque imaginam que é pelo palavreado excessivo que serão ouvidos. Não sejais como eles, porque o vosso Pai sabe do que tendes necessidade antes de lho pedirdes." (Mt 6:7-8).
As várias mudanças na Hierarquia anunciadas nas comunicações atribuídas aos Mestres Ascensos poderiam ser questionadas, a começar pela suposta renúncia de Sanat Kumara de seu posto de Senhor do Mundo. A tradição sabedoria ensina que esse grande Ser comprometeu-se a guiar a humanidade por todo o período de manifestação da Terra, como chefe da hierarquia espiritual de nosso Planeta e Iniciador Único. Encontramos em A Doutrina Secreta que esse augusto Ser "não deixará o seu posto senão no último dia deste Ciclo de Vida."[36]
É importante lembrar que o Senhor do Mundo expressa o aspecto poder (Primeiro Raio) do Logos em nosso Planeta, e o Senhor Buda o aspecto sabedoria (Segundo Raio). Se, porventura, o Senhor do Mundo deixasse seu cargo seu sucessor seria um Adepto do Primeiro Raio e não o Senhor Buda.  Como todas as outras mudanças anunciadas na estrutura da Hierarquia dependem da veracidade da renúncia de Sanat Kumara a seu posto, achamos mais pertinente não tecermos argumentos sobre as outras mudanças subseqüentes, apesar de existirem claros indícios de que as coisas permanecem na Hierarquia como eram há um século atrás. Mudanças na Hierarquia são muito raras, especialmente nos mais altos níveis, onde um Grande Ser pode ocupar um posto por muitos milênios. Essa questão, não só é difícil de resolver com provas cabais, como é ainda, de certa forma, irrelevante para a vida espiritual. Nosso progresso espiritual não depende em absoluto de nos mantermos atualizados sobre as supostas novidades em Shambala.[37]
O aspirante deve se concentrar na autotransformação e em dar o passo seguinte na Senda, e não em gastar o precioso tempo que a Providência Divina lhe concedeu em especulações sobre a vida dos Grandes Seres. Vale a pena lembrarmos mais uma vez a recomendação do Mestre K.H., em sua última carta escrita em 1900: "O falatório acerca dos 'Mestres' deve ser silenciosa mas firmemente eliminado. Nós trabalhamos anônima e silenciosamente, e a contínua referência a nós mesmos e a repetição de nossos nomes gera uma aura confusa que atrapalha nosso trabalho."[38] Encontramos na tradição judaico-cristã um paralelo nos mandamentos apresentados por Moisés: "Não pronunciarás em vão o nome de Iahweh teu Deus" (Ex 20:7).
Talvez seja pertinente, porém, algumas observações sobre alguns membros da Hierarquia, mencionados na literatura dos Mestres Ascensos. Os novos Chohans que teriam assumido o Segundo e o Sexto Raio, os Mestres Ascensos Lanto e Nada, não são conhecidos na literatura esotérica tradicional, sendo mencionados pela primeira vez nas canalizações atribuídas aos Mestres Ascensos. No caso de Saint Germain e Kwan Yin os questionamentos são de outra natureza. É dito que Kwan Yin precedeu a Saint Germain como Chohan do Sétimo Raio e que essa transferência de cargo deu-se em 1954.[39] No entanto, na obra Os Mestres e a Senda, publicada pela primeira vez em 1925, é dito: "O Chefe do Sétimo Raio é o Mestre Conde de Saint Germain, personagem histórico do século XVIII, também conhecido como o Mestre Rakoczi."[40] Portanto, de acordo com a tradição oriental, o Conde de Saint Germain já era o Chohan do Sétimo Raio, bem antes de 1954, quando, de acordo com a literatura dos Mestres Ascensos, ele teria supostamente assumido essa alta função.
Com relação à Mestre Ascensa Kwan Yin, o problema é a personificação antropomórfica de um princípio impessoal. Kwan-Shi-Yin e Kwan-Yin, são nomes chinêses para os aspectos masculino e feminino de Avalokiteshvara. De acordo com A Doutrina Secreta: "Kwan-Shi-Yin é Avalokiteshvara, e ambos são formas do Sétimo Princípio Universal; enquanto que em seu caráter metafísico mais elevado, essa Divindade é a agregação sintética de todos os Espíritos Planetários, os Dhyan-Chohans. Ele é o 'Manifestado por Si Mesmo'; numa palavra, o 'Filho do Pai'."[41] Não podemos descartar a possibilidade de que tenha existido um Grande Ser, coincidentemente na China, chamada de Kwan Yin, que tenha se tornado um Mestre de Sabedoria. No entanto, em nenhuma parte da literatura esotérica, antes do aparecimento das revelações atribuídas aos Mestres Ascensos, qualquer referência foi feita a essa personagem. Ao contrário, Kwan Yin sempre representou um princípio e não uma pessoa.
A outra prática central atribuída aos Mestres Ascensos é a transmutação do carma por meio da chama violeta, de acordo com o ministério do Mestre Ascenso Saint Germain. Muitos decretos e rituais de cura estão voltados para esse fim. Em primeiro lugar, convém investigarmos o método pelo qual esse procedimento teria se tornado possível. Numa citação anterior, de material canalizado pela Summit Lighthouse, foi dito: "A dispensação permitindo que a chama violeta fosse posta à disposição dos discípulos neste século foi concedida pelos Senhores do Carma porque Saint Germain compareceu perante esse augusto conselho para advogar, como defensor da humanidade, a causa da liberdade." Em primeiro lugar, os Senhores do Carma, ou Lipikas, os "escribas" que registram todas as palavras e ações dos homens nesta Terra, como são conhecidos na literatura esotérica, "são os agentes do carma"[42] e não membros de um suposto conselho do carma. O carma sendo uma lei fundamental e inexorável da operação da manifestação não está sujeito a "deliberações" de um conselho. Tampouco os Mestres agem como políticos, de forma emotiva visando o impacto popular, procurando modificar uma lei irrevogável "advogando, como defensores da humanidade, a causa da liberdade."
A transmutação, porém, é uma realidade conhecida da alquimia. Como Saint Germain foi o maior alquimista conhecido, é natural que os rituais de transmutação sejam sempre referidos a Ele, principalmente quando é utilizada a chama violeta, instrumento de trabalho notório do Sétimo Raio. No entanto, existe uma grande diferença entre transmutar as negatividades de um indivíduo e transmutar seu carma. Quando falamos de transmutar negatividades, estamos nos referindo às tendências da natureza inferior da pessoa. Essas tendências, skandas de acordo com os budistas ou samskaras de acordo com os hinduístas, são os tiranos que escravizam os homens numa roda viva de repetições de atos, palavras e pensamentos negativos, que necessariamente resultam em sofrimento.
Mas transmutação de carma é outro departamento. O carma é uma das leis fundamentais do universo e, como tal, é imutável. Imaginemos, por exemplo, outra lei do universo, a da gravitação. O que iria ocorrer se um Grande Ser decidisse alterar um pouco a gravitação do planeta Terra, para que ele ficasse mais perto do Astro Rei, o Sol? Ou ainda acelerar ou retardar um pouco a rotação da Terra ao redor de seu eixo? Por pouco que fosse a alteração, o resultado seria uma catástrofe indescritível. Uma lei divina universal é, por definição, tautologicamente, universal e eterna. Não pode ser alterada.
Blavatsky afirma categoricamente que: "Os Mahatmas são os servos, não os árbitros da Lei do Carma."[43] Vemos nas Cartas dos Mahatmas várias passagens indicando a imutabilidade do carma: "A justiça absoluta não vê diferença entre os muitos e os poucos... Em nossa Fraternidade todas as personalidades submergem em uma idéia – o direito abstrato e a justiça prática absoluta para todos."[44] "Não podemos alterar o Carma, meu 'bom amigo', de outro modo nós dissiparíamos a nuvem atual que há sobre seu caminho. Mas fazemos tudo o que é possível nestas questões materiais."[45] "A vida e a luta pelo Adeptado seriam muito fáceis, se tivéssemos sempre varredores atrás de nós a limpar os efeitos por nós gerados em nossa inconsideração e presunção."[46] "Tendes especialmente de conservar em mente que a mais leve causa produzida, embora inconscientemente, e seja qual for seu motivo, não pode ser desfeita nem os efeitos detidos em seu progresso, nem mesmo por um milhão de Deuses, demônios e homens combinados."[47] Podemos em sã consciência imaginar que os sábios membros dessa Fraternidade, tendo afirmado de forma tão contundente a imutabilidade do carma, iriam mudar de idéia alguns anos mais tarde e passar a 'varrer atrás de seus devotos os efeitos gerados por seu carma?', ou 'transmutar as causas produzidas e seus efeitos, que nem mesmo um milhão de Deuses, demônios e homens combinados podiam desfazer?'
Jesus também pregou a imutabilidade do carma. Algumas passagens da Bíblia atestam esse fato, na linguagem simbólica que lhe é usual: "Porque em verdade vos digo que, até que passem o céu e a terra, não será omitido nem um só i, uma só vírgula da Lei (do carma), sem que tudo seja realizado" (Mt 5:18). "Assume logo uma atitude conciliadora com o teu adversário, enquanto estás com ele no caminho, para não acontecer que o adversário te entregue ao juiz e o juiz, ao oficial de justiça, e, assim, sejas lançado na prisão (da roda de renascimentos). Em verdade te digo: dali não sairás, enquanto não pagares o último centavo" (Mt 5:25-26). "Tudo aquilo, portanto, que quereis que os homens vos façam, fazei-o vós a eles, pois esta é a lei e os (ensinamentos dos) profetas" (Mt 7:12). Paulo também reiterou esse ponto fundamental da vida espiritual em várias passagens, sendo a mais direta: "Não vos iludais: de Deus não se zomba. O que o homem semear, isso colherá" (Gl 6:7).
A imutabilidade do carma coloca em cheque todas as reivindicações de práticas que prometem a transmutação parcial ou total do carma. A repetição de decretos e o processo de cura de Magnified Healing enquadram-se nessa categoria. Magnified Healing é certamente uma poderosa energia de cura. Tendo recebido algumas aplicações dessa energia, posso afirmar que senti a energia atuando em meu corpo. Tudo leva a crer que Magnified Healing poderia ser considerado um "super-Reiki" ou "Reiki magnificado." Essa hipótese ganha força quando verificamos que as duas americanas disseminadoras originais do processo já eram mestras de Reiki por muitos anos. Ainda que Magnified Healing seja comprovadamente uma poderosa energia de cura, atuando sobre os corpos sutis do ser humano, as considerações expostas acima, sobre a imutabilidade do carma como uma lei universal, põem em questionamento a reivindicação de que a dimensão espiritual dessa energia também poderia transmutar o carma do "paciente." É interessante notar que a aplicação dessa energia, dispensada pelo 'Deus Supremo do Universo,' pode ser cobrada dos "pacientes," em contraste com a antiga lei oculta de que as energias espirituais não podem ser objeto de comercio. Nesse particular nossos irmãos espíritas são mais coerentes: os 'passes', a participação em rituais de cura e até mesmo as operações espirituais não são cobradas, ainda que os beneficiários possam contribuir de livre e espontânea vontade para a manutenção da obra. O estudante de esoterismo teria muito a aprender sobre essa questão em Palmelo, cidade goiana onde existem dezenas de indivíduos e instituições voltados para a cura espiritual.
Voltando ao carma, a Lei divina estabelece que a semeadura é opcional, mas a colheita é obrigatória. Mesmo os chelas e iniciados estão sujeitos à Lei. Isso nos remete ao ponto seguinte, a suposta aceleração do processo evolutivo, possibilitando a um discípulo tornar-se um Mestre Ascenso transmutando somente 51 por cento de seu carma.
A milenar tradição esotérica postula que, para receber a Quarta Iniciação, o Iniciado tem que quitar todo seu carma pendente. Essa é a razão porque alguns neófitos estranham o fato de certos santos e notórios servidores da humanidade, que ao longo da vida mostraram desprendimento, sabedoria, amor ao próximo e bondade para com todos os seres, sofrerem todo tipo de infortúnio, doenças e até mesmo perseguições. Talvez um ou dois exemplos facilitem o entendimento da Grande Lei. O saudoso Chico Xavier passou a vida fazendo o bem, mas foi várias vezes injuriado e durante toda a sua vida sofreu de uma ou outra doença. Com seu conhecido bom humor, dizia que, apesar de uma vida celibatária, sempre foi assediado por duas senhoras: Glaucoma e Angina, que não lhe deixavam em paz (com terríveis dores nos olhos e no coração).
A indômita Helena Blavatsky renunciou a tudo para viver exclusivamente a serviço do mundo, tendo sido difamada, injuriada e passado por necessidades materiais e enfermidades dolorosas, permanecendo, porém, sempre firme no serviço de seu Mestre. Dois fatos relacionados à imutabilidade do carma aparecem de forma curiosa na vida de Blavastky. Numa batalha pela unificação da Itália, recebeu um tiro, ficando a bala alojada perto da coluna, causando-lhe dores e desconforto. Apesar dos médicos não poderem retirar a bala ela, com seus poderes ocultistas, poderia desmaterializar o projétil. No entanto, não tinha permissão para faze-lo, pois estaria infringindo a lei do carma e usando poderes ocultos em benefício próprio. Num determinado momento enquanto estava trabalhando na sua grande obra, A Doutrina Secreta, seu corpo combalido não dava mais sinais de resistir aos inúmeros problemas de saúde que enfrentava. O médico que a acompanhava já dava como certa a sua morte. Nesse instante, porém, seu Mestre apareceu em corpo físico e perguntou se ela queria por um fim ao seu sofrimento ou preferia continuar a viver para terminar seu trabalho. Blavatsky não hesitou em decidir pela continuação do trabalho. Seu Mestre, então, reanimou seu corpo dando-lhe uma sobrevida, porém, sem curar as doenças que tinha, ou seja, sem mudar seu carma.
A única explicação para essas aparentes incoerências do carma, nos casos de Chico Xavier, Blavatsky e tantos outros servidores da humanidade, é o fato de que esses grandes iniciados estariam resgatando o restante de seu carma ainda pendente de vidas passadas, para capacitá-los à Quarta Iniciação, que os tornariam Arhats, seres que não mais precisam encarnar, se optarem por entrar em Nirvana. A vida de sofrimento dos candidatos à Quarta Iniciação é, certamente, equivalente a uma verdadeira "crucificação" ainda que, no seu devido tempo, as atribulações sejam substituídas pela glória da "ressurreição."
A possibilidade de uma aceleração no processo evolutivo por meio de certas práticas é, sem dúvida, um grande incentivo para qualquer aspirante. No entanto, o famoso Caminho Acelerado de que trata a tradição esotérica, é o árduo Caminho da Iniciação, para o qual existem regras milenares rígidas seguidas pela Grande Hierarquia. A tradição menciona que o homem passa simbolicamente por 777 encarnações, desde sua individualização como ser humano até tornar-se um super-homem, um Iniciado do Quinto Grau, um Mestre de Sabedoria. As primeiras 700 encarnações simbolizam o longo caminho do homem mundano, materialista, vivendo para a gratificação dos sentidos. As 70 encarnações seguintes simbolizam o considerável período de desenvolvimento intelectual e moral, levando ao despertar espiritual, até tornar-se um discípulo aceito preparando-se para a Primeira Iniciação. As últimas 7 encarnações simbolizam o Caminho Acelerado, o número de encarnações necessárias para aquele que "entrou na corrente" atingir "a outra margem," ou seja, trilhar o Caminho Iniciático da Primeira à Quinta Iniciação.
Esses números de encarnações, obviamente são simbólicos. Podem ser mais ou menos, dependendo do empenho de cada alma. O que é importante é a ordem de grandeza das três grandes etapas: a etapa das Iniciações representaria um décimo do tempo da etapa de evolução intelectual e moral, e essa um décimo da etapa da vida do homem comum, inteiramente mundana, egoísta e materialista.
Em contraste com essa experiência milenar, a literatura dos Mestres Ascensos acena com uma notável aceleração do processo. Por exemplo, é dito que o discípulo dedicado pode passar da Terceira Iniciação para a Ascensão em seis anos de trabalho intenso. Somos informados, também, que os principais "canais" desses movimentos, chamados de "mensageiros dos Mestres" teriam alcançado a Ascensão, ou seja a Sexta Iniciação, enquanto se supõe que Blavatsky e Chico Xavier não alcançaram mais do que a Quarta Iniciação. Guy Ballard teria se tornado o Mestre Ascenso Godfre e Mark Prophet o Mestre Ascenso Lanello.
Espera-se que um ser que "ascendeu" tenha tido uma longa série de encarnações à serviço da humanidade. Esse parece ter sido o caso dos dois grandes mensageiros dos Mestres Ascensos. Ballard relatou ter-se encarnado anteriormente como George Washington, e os reis da Inglaterra Henrique V e Ricardo I (Ricardo Coração de Leão).  No caso de Mark Prophet, sua viúva informa-nos que em vidas passadas ele teria sido: Noé, Ló, Ikhnaton, Esopo, o discípulo Marcos, Orígenes, Lancelote, Bodhidharma, Saladino, Boaventura, Luís XIV e Longfellow.
Obviamente não nos compete questionar a nobre linhagem desses mensageiros dos Mestres Ascensos, pois não temos credenciais para tanto. No entanto, devemos lembrar que o Noé da Bíblia é um personagem mítico. Ele representa o poder criativo masculino, sendo também a personificação de um dos dez Sephiroth.[48] Nas palavras de Geoffrey Hodson: "Noé é a personificação do ocupante de uma Função (Manu) no Governo Espiritual dos Sistemas Solares, Cadeias, Rondas, Planetas e Raças. Noé representa mais especialmente os Manus Raiz e Semente, cuja vocação é de absorver e preservar dentro de suas auras (arcas), durante os Pralayas (dilúvio), as sementes das coisas vivas e as Mônadas dos homens. Essas eles entregam aos seus sucessores no início do Manvantara seguinte (a dispensação após o dilúvio)."[49]
È provável, portanto, que tenha havido um engano nas informações canalizadas por Elizabeth Prophet. Não é possível que Mark Prophet tenha se encarnado como Noé. É dito que na Hierarquia Terrena, um Manu é um Iniciado do Sétimo Grau.[50] Portanto, se Mark porventura tivesse sido Noé, teria regredido em vez de evoluir, pois, após várias encarnações, teria alcançado no século passado outra vez o nível de um Mestre Ascenso, ou seja a Sexta Iniciação, na terminologia da Summit Lighthouse. Esse fato levanta uma dúvida: erros semelhantes também não poderiam ter ocorrido em outras partes do material canalizado por Elizabeth Prophet e pelos outros mensageiros dos Mestres Ascensos? Nesse caso, que grau de confiança podemos ter no material canalizado?

CONCLUSÕES
É dito que existem tantos Caminhos como existem seres humanos e que as necessidades de cada um mudam com o passar do tempo. Assim como as brincadeiras de criança dão lugar aos esportes e à busca da sensualidade no adolescente, mais tarde aos jogos de poder no adulto e, finalmente, no homem maduro ao anseio espiritual, assim também, o buscador da verdade passa por diferentes etapas em sua jornada. Em cada etapa da vida teremos novos desafios. Assim como a fruta só aparece na estação certa, no ser humano o amadurecimento espiritual virá no seu devido tempo, e a Providência Divina colocará ao nosso alcance as circunstâncias mais favoráveis ao nosso progresso. Cabe a cada um, porém, discernir o que lhe é mais apropriado e tomar as ações devidas para aproveitar as oportunidades ao seu alcance.
Porém, devemos ter sempre em mente que todas as informações, instruções e revelações do exterior, estejam elas contidas nas Sagradas Escrituras, livros inspirados, nas palavras de grandes sábios ou em mensagens canalizadas, são meramente meios para um fim. O objetivo último de toda a vida espiritual é a experiência interior de unidade com o Todo e com todos, ou a união com Deus, como dizem os místicos. Nas palavras de Lama Govinda, "Os instrutores tibetanos sempre enfatizam o fato de que a verdade última não pode ser expressa em palavras, mas somente experimentada em nosso interior. Portanto, nossas crenças não são importantes, mas sim o que nós experimentamos e praticamos, e como isso afeta a nós mesmos e o ambiente que nos cerca."[51]
Aqueles que se sentem confortáveis em sua tradição ou movimento, nele encontrando tudo o que seu coração pede, devem aproveitar para mergulhar fundo em seus estudos e, principalmente, em suas práticas. Devemos ter em mente, porém, que cada um de nós é um diamante em processo de lapidação. Existem inúmeras facetas dessa pedra preciosa que precisam ser buriladas. Em geral, precisamos mudar de posição ou a direção do movimento, para burilar uma nova faceta. Por isso devemos ter em mente a sabedoria milenar contida na preciosa obra: Luz no Caminho. Nela somos instados a buscar o caminho: "Busca o caminho, retirando-te para o interior. Busca o caminho, avançando resolutamente para o exterior. Busca-o, mas não em uma direção única. Para cada temperamento existe uma via que parece a mais desejável. Porém, só pela devoção não se encontra o caminho, nem pela mera contemplação religiosa, nem pelo ardor de progresso, nem pelo laborioso sacrifício de si mesmo, nem pela estudiosa observação da vida. Nenhuma dessas coisas por si só faz adiantar ao discípulo mais que um passo. Todos os degraus são necessários para subir a escada."[52]
Por essa razão, convém ao buscador estar sempre atento a outros enfoques, a outras doutrinas, além daquelas professadas por sua religião, movimento ou tradição. É dito que uma das melhores maneiras de entendermos as doutrinas de nossa religião é estudarmos outra religião. Como estaremos começando do princípio e, no caso da "religião dos outros," não seremos tolhidos por questões de fé doutrinária, torna-se mais fácil estudarmos e questionarmos até entendermos os pontos fundamentais dessa outra religião. Isso invariavelmente nos remeterá a vários pontos paralelos de nossa própria religião, que anteriormente haviam sido aceitos mesmo sem ser entendidos. Como todas as religiões originam-se da mesma fonte e levam ao mesmo objetivo, não é de se estranhar que venhamos a encontrar inúmeras concordâncias ou paralelos em seus aspectos fundamentais. A teosofia, a sabedoria divina, é exatamente a essência esotérica fundamental que está por trás de todas as grandes religiões e tradições.
Para meus queridos irmãos, seguidores dos ensinamentos dos Mestres Ascensos, que ainda estão lendo com pertinácia este ensaio, apesar dos questionamentos levantados, sugiro simplesmente que procurem ler as cartas dos Mestres publicadas originalmente no século passado, e disponíveis agora em português.[53] Algumas pessoas talvez prefiram ler inicialmente o livreto: Meditações. Excertos de Cartas dos Mestres de Sabedoria,[54] que apresenta citações selecionadas, relacionadas com as principais virtudes requeridas na vida espiritual. Com essa leitura terão um termo de comparação entre o estilo e a doutrina ensinada pelos Mestres no final do século XIX e aquela apresentada atualmente pelo material canalizado atribuído aos Mestres Ascensos. Se esse estudo indicar que não existe grande diferença entre as duas fontes, então poderão prosseguir com consciência tranqüila de que estão tomando todos os cuidados possíveis para caminhar sempre em terreno sólido. Se, no entanto, descobrirem que existem diferenças importantes de métodos de instrução e de doutrina, terão então uma oportunidade para desenvolver seu discernimento e testar até que ponto a intuição é capaz de guiar sua vida.
Não há dúvida de que o anseio por receber instrução do Mestre é legítimo. Porém não podemos nos esquecer de duas máximas do ocultismo. A primeira é que: "Quando o discípulo está pronto o Mestre aparece." Será que realmente estamos prontos para ser instruídos pelos verdadeiros Mestres? Estamos prontos para enfrentar uma disciplina de treinamento mais exigente e rigorosa do que a dos atletas olímpicos, não só por alguns meses ou anos antes da competição, mas por toda nossa vida? Estamos prontos para assumir o compromisso de servir à humanidade, sem nenhuma distinção, por séculos e milênios sem fim, até que o último ser humano seja salvo? Estamos prontos para renunciar ao nosso conforto, aos nossos interesses pessoais e até mesmo aos nossos bens, para executar o trabalho do Mestre? Estamos prontos a continuar a servir, mesmo quando vilipendiados e injuriados? Estamos realmente conscientes de todas as implicações de nossa eventual aceitação como discípulo do Mestre?
A segunda máxima, uma extensão da lei do carma, é de que "Cada um tem o Mestre que merece." Somente o próprio indivíduo pode avaliar o grau de sua pureza de coração, de seu altruísmo, de sua entrega à Deus, de seu amor incondicional por todos os seres, de sua humildade e de seu discernimento, para saber que tipo de Mestre ele merece.
O livreto apropriadamente intitulado Aos Pés do Mestre, de autoria de Krishnamurti, menciona que existem quatro qualificações para Senda. "A primeira dessas qualificações é o Discernimento, usualmente tomado no sentido da distinção entre o real e o irreal, que conduz o homem a entrar na Senda. É isso; mas é também muito mais, e deve ser praticado não somente no início da Senda, mas a cada passo, todo o dia, até o fim."[55] Os Grandes Instrutores alertam repetidamente que todo discípulo está se preparando para tornar-se um Mestre e, portanto, deve desenvolver seu intelecto, percepção e discernimento ao ponto de jamais ser enganado pelas ilusões do mundo. Se aspiramos a nos tornar discípulos, devemos também desenvolver o discernimento, investigando todos os ângulos da doutrina que nos for apresentada. Essa era uma recomendação constante do Senhor Buda: submetermos sempre ao crivo da mente e do coração os ensinamentos que nos são passados pelos sábios e pelas Escrituras, incluindo até mesmo a doutrina que ele havia ensinado. A fé cega leva ao fanatismo e à estagnação. A fé consciente, ao contrário, leva ao crescimento e, no seu devido tempo, à iluminação.
Que a Luz Divina ilumine nossas mentes e fortaleça a nossa determinação, para que possamos trilhar o árduo Caminho da Perfeição que leva, no seu devido tempo, aos pés do Mestre.
Raul Branco[1]



[1] O autor é um estudante da tradição cristã, tendo publicado os livros: Pistis Sophia, os Mistérios de Jesus (Bertrand Brasil, 1997) e Os Ensinamentos de Jesus e a Tradição Esotérica Cristã (Pensamento, 1999)
[2] Cartas dos Mahatmas para A. P. Sinnett. Sua 1ª edição foi publicada em inglês em 1923, e publicada em português, em 2001, pela Editora Teosófica.
[3] C. Jinarajadasa, Cartas dos Mestres de Sabedoria, publicada pela primeira vez em inglês em 1919, e em português em 1996, pela Editora Teosófica.
[4] Cartas dos Mahatmas, Vol. I, pg. 85.
[5] Artigo de H.P. Blavatsky sobre Precipitação publicado originalmente no The Theosophist  e reproduzido no livro: Five Years of Theosophy (Londres, Reeves and Turner, 1885), pg. 519.
[6] Vernon Harrison, H.P. Blavatsky and the SPR (The Theosophical University Press, 1997)
[7] Material contido na página da net da Summit Lighthouse do Brasil versando sobre o Mestre Ascenso El Morya Khan.
[8] "Nós deixamos que nossos candidatos sejam tentados de mil maneiras diferentes, de modo que venha para fora a totalidade da sua natureza interna, e deixamos a esta a possibilidade de vencer de uma maneira ou de outra." Cartas dos Mahatmas, Vol. II, pg. 98
[9] Meditações. Excertos de Cartas dos Mestres de Sabedoria (Editora Teosófica, 2003), pg. 190.
[10] Cartas dos Mahatmas, Vol. I, pg. 43.
[11] The Mahatma Letters to A.P. Sinnett, compiled by A. Trevor Barker, The Theosophical University Press, California, 2nd. Edition, pg. 363.
[12] Cartas dos Mahatmas para A. P. Sinnett, Editora Teosófica, vol I, pg. 36.
[13] "Somente os adeptos, isto é, os espíritos encarnados – estão proibidos pelas nossas leis sábias e intransgressíveis de sujeitar completamente uma outra vontade mais fraca – de um homem que nasceu livre. Este último procedimento é o adotado preferencialmente pelos 'irmãos da sombra', os feiticeiros, os fantasmas elementais." Cartas dos Mahatmas, op.cit., Vol. I, pg. 115-116.
[14] C. Jinarajadasa (compilador), Cartas dos Mestres de Sabedoria (Editora Teosófica), pg. 106-7.
[15] C. W. Leadbeater, Os Mestres e a Senda (Editora Pensamento), pg. 114-115.
[16] Condessa Constance Wachtmeister, Reminiscências de H.P. Blavatsky e de A Doutrina Secreta, Editora Pensamento, pg. 25-26.
[17] Cartas dos Mahatmas, Vol. I, pg. 124.
[18] Seres humanos que alcançaram a mais alta iluminação, que os capacita a entrar no estado de inconcebível bem-aventurança conhecido como Nirvana, mas que optam pelo sacrifício de permanecer na esfera terrena, para trabalhar em benefício da humanidade sofredora.
[19] Cartas dos Mahatmas, Vol. I, pg. 125.
[20] Cartas dos Mahatmas, Vol. II, pg. 152.
[21] Vide, Alice Bailey, The Unfinished Autobiography, N.Y., Lucis Publishing Co., 1951.
[22] Vide: Geoffrey Hodson, A Vida do Cristo do Nascimento à Ascensão (Brasília, Editora Teosófica, 1999); Annie Besant, O Cristianismo Esotérico (Editora Pensamento; C.W. Leadbeater, A Gnose Cristã (Brasília, Editora Teosófica); Alice A. Bailey, From Bethlehem to Calvary, The Initiations of Jesus (N.Y., Lucis, 1981); Rudolf Steiner, From Jesus to Crist (Sussex, Rudolf Steiner Press, 1991); e Raul Branco, Os Ensinamentos de Jesus e a Tradição Esotérica Cristã (Editora Pensamento, 1999).
[23] Os Mestres e a Senda, op.cit., pg. 197.
[24] Os Mestres e a Senda, op.cit., pg. 209-210.
[25] Mark e Elizabeth Prophet, A Ciência da Palavra Falada (Summit Lighthouse do Brasil), pg. 127.
[26] A Ciência da Palavra Falada, contracapa.
[27] A Ciência da Palavra Falada, pg. XXIII.
[28] A Ciência da Palavra Falada,  pg. 20.
[29] A Ciência da Palavra Falada, pg. 62.
[30] A Ciência da Palavra Falada, pg. 77, 82 e 117.
[31] Os Mestres e a Senda, op.cit., pg. 188-9.
[32] Vide: Geoffrey Hodson, A Sabedoria Oculta na Bíblia Sagrada (no prelo).
[33] Santa Teresa de Jesus, Castelo Interior ou Moradas (Paulus, 1981).
[34] Vide: I. K. Taimni, A Ciência do Ioga (Editora Teosófica).
[35] Pensamentos de Eckhart e Sankara, dois dos maiores místicos do Ocidente e Oriente, citados por Rudolf Otto, "Mysticism East and West," (The McMillan Co., N.Y., 1932), pg. 31.
[36] H.P. Blavatsky, A Doutrina Secreta, Vol. I, pg. 246.
[37] Cidade mitológica, noutra dimensão, em que é dito residem os Grandes Seres.
[38] Cartas dos Mestres de Sabedoria, op.cit., pg. 107.
[39] Informação apresentada na página da net, versando sobre Magnified Healing e a Mestra Kwan Yin.
[40] C.W. Leadbeater, Os Mestres e a Senda, op.cit, pg. 242-243.
[41] H.P. Blavatsky, A Doutrina Secreta, vol. II, pg. 180.
[42] H.P. Blavatsky, Glossário Teosófico (Editora Teosófica).
[43] "Chelas and Lay Chelas", artigo originalmente publicado na revista The Theosophist reproduzido em  Five Years of Theosophy (Londres, Reeves and Turner), pg. 55.
[44] Cartas dos Mahatmas para A.P. Sinnett, op.cit., Vol. II, pg. 260.
[45] Op.cit., Vol. II, pg. 318.
[46] Meditações. Excertos de Cartas dos Mestres de Sabedoria (Editora Teosófica, 2003), pg. 136-7.
[47] Meditações. op.cit., pg. 141.
[48] Geoffrey Hodson, The Hidden Wisdom in the Holy Bible, vol. II, pg. 53. Esta obra será publicada em breve em português.
[49] The Hidden Wisdom in the Holy Bible, op.cit., vol. II, pg. 168.
[50] Vide C. Jinarajadasa, Fundamentos de Teosofia (Pensamento), pg. 209.
[51] Lama Govinda, Insights of a Himalayan Pilgrim (Dharma Press), pg. 38
[52] Mabel Collins, Luz no Caminho (Editora Teosófica)
[53] Cartas dos Mahatmas para A.P. Sinnett, em dois volumes (Editora Teosófica), e Cartas dos Mestres de Sabedoria (Editora Teosófica).
[54] Também publicado pela Editora Teosófica.
[55] Aos Pés do Mestre, op.cit., pg. 14.

Fonte:http://www.levir.com.br/teosofia101.php

 

LIÇÕES DAS CARTAS DOS MAHATMAS


Em Dez Passagens Selecionadas, Mestres
Mostram o Caminho Espiritual Sem Ilusões


Um Estudante de Teosofia


O texto a seguir foi publicado pela
primeira vez no boletim eletrônico mensal
“O Teosofista”, edição de setembro de 2011.




Reproduzimos a seguir trechos das cartas dos sábios orientais que inspiraram a criação do movimento teosófico moderno em sete de setembro de 1875.     

Comentários explicativos antecedem cada trecho. 

1) O primeiro fragmento mostra que a noção de dever é sagrada e fundamental para os seres que transcenderam a atual etapa da humanidade. A citação também revela que a ideia de que “viver é aprender” se aplica a todos os seres. Embora os mestres de Sabedoria tenham esgotado basicamente o aprendizado humano, eles continuam aprendendo sobre a vida universal e possuem os Seus próprios mestres.  Diz o sábio dos Himalaias: 

“.... Meu primeiro dever é para com o meu Mestre. E o dever, deixe-me dizer-lhe, é para nós mais forte do que qualquer amizade ou mesmo amor; já que sem este princípio permanente, o cimento indestrutível que tem unido durante tantos milênios os guardiães esparsos dos grandes segredos da natureza - nossa Fraternidade, e mais, a nossa própria doutrina - teriam se desmanchado há muito em átomos irreconhecíveis.”

(“Cartas dos Mahatmas”, Ed. Teosófica, Brasília, volume 2, Carta 126, p. 273.)

2) Em seguida temos um trecho que é considerado por alguns teosofistas como “um resumo do discipulado”. O estudante deve lê-lo várias vezes, observando repetidamente cada uma das suas ideias, até começar a perceber as camadas mais profundas de significado. Um iogue dos Himalaias afirma: 

“Já foi dito a você (.....) que o caminho para as Ciências Ocultas tem de ser trilhado laboriosamente e percorrido com perigo de vida; que cada novo passo nele, que leva à meta final, é rodeado por armadilhas e espinhos cruéis; que o peregrino que se aventura por ele é obrigado primeiro a confrontar e vencer as mil e uma fúrias [1] que guardam seus portões e sua entrada adamantinos [2] - fúrias chamadas Dúvida, Ceticismo, Desprezo, Ridículo, Inveja e finalmente Tentação - especialmente a última; e que aquele que quiser ver mais além tem primeiro de destruir este muro vivo; deve ter um coração e uma alma vestidos de aço e uma determinação de ferro, que nunca falha, e no entanto deve ser amável e gentil, humilde, e deve ter expulsado do seu coração toda paixão humana, que leva ao mal.”

(“Cartas dos Mahatmas”, volume 2, Carta 126,  p. 274. )

3) O trecho a seguir avança na mesma linha.  Deixando de lado as ilusões, ele amplia a visão do caminho teosófico como uma missão e um desafio em que não faltam obstáculos:

“Olhe ao seu redor, meu amigo: veja os ‘três venenos’ devastando o coração dos homens - o ódio, a cobiça e a ilusão; e as cinco escuridões: a inveja, a paixão, a hesitação, a preguiça e a descrença, sempre impedindo-os de ver a verdade. Eles nunca se verão livres da poluição dos seus corações vaidosos e maldosos, nem perceberão a parte espiritual que há neles mesmos. Irá você tentar - para diminuir a distância entre nós - libertar-se da rede da vida e da morte em que todos eles estão presos ......?” 

(“Cartas dos Mahatmas”, volume  I,  Carta 47, p. 214)

4) O trecho numero quatro talvez seja um dos mais significativos de todo o acervo de cartas de que dispõe a literatura teosófica.

Ele mostra a necessidade de optar entre dois caminhos. Um deles é fácil. O outro coberto de desafios e dificuldades: 

“Um chela em provação tem permissão para pensar e fazer o que quiser. Ele é advertido e informado previamente: ‘Você será tentado e enganado pelas aparências; dois caminhos se abrirão diante de você, os dois levando à meta que você está tentando alcançar; um, fácil, e este o levará mais rapidamente ao cumprimento das ordens que você pode receber; o outro, mais árduo, mais longo; um caminho cheio de pedras e espinhos que o farão pisar em falso mais de uma vez; e no final do qual você pode, talvez, chegar a um fracasso, depois de tudo, e ser incapaz de executar as ordens dadas para um pequeno trabalho particular - mas, enquanto este caminho fará com que as dificuldades enfrentadas por você devido a ele sejam todas contabilizadas a seu favor a longo prazo, o outro, o caminho fácil, só pode oferecer a você uma gratificação momentânea, uma realização fácil da tarefa’. O chela tem toda liberdade, e freqüentemente muitas razões, do ponto de vista das aparências, para suspeitar que seu Guru é ‘um impostor’, uma palavra elegante. Mais que isso: quanto maior e mais sincera sua indignação - seja ela expressada com palavras ou esteja fervendo em seu coração - tanto mais adequado ele é, e mais qualificado para tornar-se um adepto. Ele é livre para usar, e não terá que responder pelo fato de empregar até mesmo as palavras e expressões mais abusivas em relação às ações e ordens do seu guru, uma vez que ele saia vitorioso da provação; uma vez que ele resista a todas e cada uma das tentações; que rejeite todas as seduções; e comprove que nada, nem mesmo a promessa daquilo que ele considera mais valioso que a vida, daquela bênção extremamente preciosa, seu futuro adeptado - é capaz de fazer com que ele se desvie do caminho da verdade e da honestidade, ou forçá-lo a tornar-se um enganador.

(“Cartas dos Mahatmas”, volume I, pp. 343-344).

5) A próxima passagem das Cartas mostra que é indispensável estabelecer uma linha de  coerência entre o sonho do ideal e as ações práticas da vida cotidiana.  Além disso, sugere a ideia de que a humanidade está hoje a um passo de uma nova era que será marcada pela paz e pela sabedoria. 

Diz o Mestre:

“Aquele que quiser erguer alto a bandeira do misticismo e proclamar que o seu reino está próximo tem que dar o exemplo aos outros. Ele deve ser o primeiro a mudar os seus próprios modos de vida; e, com relação ao fato de que o estudo dos mistérios ocultos é o degrau mais alto da escada do Conhecimento, tem que proclamar isso em voz alta, apesar da ciência exata e da oposição da sociedade. O Reino do Céu é obtido pela força, dizem os místicos cristãos.”

(“Cartas dos Mahatmas”, volume  I, Carta 2,  p. 43)

6) O trecho número seis permite compreender que os contatos verbais e externos entre os Mestres de Sabedoria e a humanidade ocorreram  experimentalmente e como uma exceção à regra durante  os primeiros anos do movimento teosófico, tendo cessado no final do século 19. As “canalizações”, começadas sob a liderança de Annie Besant e outras pessoas  desinformadas,  pertencem ao ramo da fantasia. As palavras do Mestre se referem nesta passagem à Sociedade Teosófica original, que deixou de existir poucos anos após a morte de Helena Blavatsky, devido à fragmentação do movimento provocada por Annie Besant. 

O desafio de curto prazo de que fala o Mestre na Carta foi superado, e os Mahatmas continuaram em contato externo e verbal com alguns teosofistas durante mais algum tempo.

Foi a Carta de 1900  -  disponível em  www.FilosofiaEsoterica.com sob o título de “A Carta de 1900, na Íntegra” -  que estabeleceu o silêncio final. A mesma carta antecipou, profeticamente,  o abandono da verdadeira teosofia por parte da Sociedade de Adyar.

Diz o Mestre, formulando já nos anos 1880 uma advertência preliminar:

“Dentro de mais alguns meses terminará o período de provação [3]. Se naquele momento a posição da Sociedade em relação a nós - a questão dos ‘Irmãos’ - não tiver sido resolvida definitivamente (seja eliminando-a do programa da Sociedade ou aceitando as nossas condições), não haverá mais notícias dos “Irmãos” de quaisquer formas, cores, tamanhos ou graus. Desapareceremos da vista do público como um vapor desaparece no oceano. Só àqueles que provaram ser fiéis a nós e à verdade em todos os momentos será permitido contato futuro conosco. E nem mesmo eles, a menos que, desde o presidente para baixo, prometam, com os mais solenes compromissos de honra, guardar um segredo inviolável, de agora em diante, sobre nós, sobre a Loja [4] e os assuntos tibetanos, e não responder sequer perguntas dos seus amigos mais próximos, embora o silêncio possa, provavelmente, dar a aparência de que tudo que foi revelado seja ‘fraude’.”

(“Cartas dos Mahatmas”, volume I,  pp. 207-208.)

7) No sétimo trecho, o Mestre avalia o processo da correspondência com seu discípulo leigo Alfred P. Sinnett. A correspondência serviu como base para o livro “O Mundo Oculto” (publicado em português pela Editora Teosófica) e para a obra “O Budismo Esotérico” (disponível pela Editora Pensamento).

O mestre admite que os livros ficaram aquém do esperado, e atribui isso ao fato de que Sinnett não havia passado por nenhuma grande iniciação. Em seguida, o mestre afirma que é  necessário alguém ter alcançado a terceira iniciação para escrever corretamente sobre assuntos ocultos e temas cósmicos. Sabendo-se que mais tarde os Mestres destinaram a H.P. Blavatsky a tarefa de escrever sobre estes temas, na obra “A Doutrina Secreta”, pode-se deduzir que H. P. B. tinha, pelo menos, a terceira grande iniciação. 

Diz o trecho da Carta do Mestre:

“Quando começou a nossa primeira correspondência, não havia nenhuma idéia sobre quaisquer publicações que fossem baseadas nas respostas que você recebesse. Você continuou colocando perguntas ao azar, e as respostas - que foram sendo dadas em ocasiões diferentes para perguntas desconjuntadas, e, digamos, sob um semiprotesto - eram necessariamente imperfeitas, muitas vezes em vários aspectos. Quando foi permitida a publicação de algumas delas em O Mundo Oculto, esperava-se que alguns dos seus leitores fossem capazes, como você, de montar todas as peças e desenvolver a partir delas o esqueleto, ou uma sombra do nosso esquema, o qual, embora não fosse exatamente o original - isto seria uma impossibilidade - constituiria uma abordagem tão próxima dele quanto possível para um não-iniciado. Mas os resultados foram quase desastrosos! Nós havíamos feito uma experiência e fracassado lamentavelmente! Agora vemos que ninguém, exceto aqueles que passaram pelo menos pela sua terceira iniciação, é capaz de escrever de modo compreensível sobre estes assuntos. Herbert Spencer teria feito uma confusão nas circunstâncias em que você atuou. Mohini certamente não está de todo correto, em alguns detalhes ele está claramente errado, mas você também está, meu velho amigo, embora o leitor externo não seja o mais capacitado a perceber, e ninguém, até agora, tenha reparado nos erros realmente vitais em O Budismo Esotérico e em Man [5], e provavelmente ninguém o fará.” 

(“Cartas dos Mahatmas”, volume II, Carta 128, p. 282)

8) O oitavo trecho mostra que o verdadeiro movimento teosófico não está preso a nenhuma organização. Ele transcende qualquer agrupamento de pessoas, porque a sabedoria e a ética universais são intuitivas e podem surgir em todo lugar: 

“A Europa é grande, mas o mundo ainda é maior. O sol da Teosofia tem que brilhar para todos, não para uma parte. Há muito mais neste movimento do que o que você percebeu até agora...”

(“Cartas dos Mahatmas”, volume I, p. 220, Carta 48.)

9) Os trechos nove e dez pertencem à mesma Carta. No nono trecho, vemos como os discípulos eram testados e treinados em épocas anteriores à nossa:

“Meu amigo, nas Lojas Maçônicas dos tempos antigos, o neófito era submetido a uma série de testes espantosos, em que estavam em jogo a sua constância, sua coragem e sua presença de espírito. Através de impressões psicológicas provocadas por máquinas e substâncias químicas, ele era levado a acreditar que estava caindo em precipícios, que seria esmagado por rochas, que caminhava através de pontes de teia de aranha no meio do ar, que atravessava fogo, que se afogava na água e era atacado por animais selvagens. Esta era uma reminiscência e um programa tomado por empréstimo dos Mistérios Egípcios.[6] Como o Ocidente havia perdido os segredos do Oriente, ele tinha, digamos, que fazer uso de um artifício. Mas nos dias atuais a vulgarização da ciência tornou obsoletos estes testes triviais.”

(“Cartas dos Mahatmas”, volume II, Carta 136, p. 316.)

10) O décimo trecho continua o anterior.  Aqui o Mestre indica de que modo se desdobra o discipulado desde a criação do movimento teosófico moderno, em 1875. O fato antecedeu e preparou o ingresso da humanidade na era de Aquário, o que ocorreu no ano de 1900. 

Fica claro que os rituais são inúteis, porque o desafio é o autoconhecimento na linha da Raja Ioga: 

“O aspirante é agora atacado inteiramente no lado psicológico da sua natureza. O processo de testes - na Europa e na Índia - é o da Raja Ioga, e o seu resultado é, como tem sido explicado freqüentemente, o desenvolvimento de todos os germes, bons e maus, que há nele e em seu temperamento. A regra é inflexível, e ninguém escapa, quer ele apenas escreva uma carta para nós, ou formule, na privacidade do seu próprio coração, um forte desejo de comunicação e conhecimento ocultos. Assim como a chuva não pode fazer frutificar a rocha, tampouco o ensinamento oculto surte efeito sobre a mente que não é receptiva; e assim como a água aumenta o calor da cal cáustica, também o ensinamento coloca em impetuosa ação todas as insuspeitadas potencialidades latentes no aspirante.

(“Cartas dos Mahatmas”, volume II, Carta 136, mesma p. 316.)

NOTAS:

[1] Fúrias - na mitologia clássica, divindades femininas que puniam crimes, instigadas pelas vítimas, e vingavam os deuses.

[2] Adamantinos - isto é, feitos de diamante.

[3] Provação: isto é, o período de teste ou experiência.

[4] Loja dos Adeptos.

[5] “Man” - Menção ao livro “Man: Fragments of Forgotten History” (Homem: “Fragmentos de Uma História Esquecida”), escrito por Mohini Chatterjee e Laura Holloway e publicado nos anos 1880.

[6] Cabe destacar neste ponto que o “rito egípcio” inventado artificialmente por líderes da Sociedade de Adyar na primeira metade do século vinte nada tem a ver com a tradição egípcia, embora dela faça em parte uma imitação ingênua, e não possui qualquer relação tampouco com o Rito Egípcio da maçonaria de Alessandro Cagliostro,  na França do século 18.  Cagliostro foi um sábio e trilhou um caminho autêntico.


 

Para ter acesso a um estudo diário da teosofia original, escreva a lutbr@terra.com.br  e pergunte como é possível acompanhar o trabalho do e-grupo SerAtento.
Fonte:http://www.teosofiaoriginal.com/2011/10/licoes-das-cartas-dos-mahatmas.html

A PALAVRA DOS MAHATMAS



Onze Trechos das Cartas dos
Mestres, Para Refletir e Meditar


Carlos Cardoso Aveline (Ed.)




O texto a seguir reúne trechos selecionados da
coletânea “Cartas dos Mahatmas Para A. P. Sinnett”
(Editora Teosófica, 2001, dois volumes). Ao final de
cada citação, indicamos entre parênteses o número do
volume e o número da página em que estão as palavras citadas.
Acrescentamos subtítulos, entre colchetes, antes de cada fragmento.



[ 1. O Motivo do Silêncio dos Mestres ]

Se por várias gerações temos “impossibilitado o mundo de ter Conhecimento do nosso Conhecimento”, foi devido ao seu absoluto despreparo; e se, apesar das provas dadas, o mundo ainda se negar a aceitar as evidências, então nós, no final deste ciclo, nos retiraremos outra vez à solidão e ao nosso reino do silêncio...  (I, 128) [1]

[2. Construindo uma Torre de Pensamento Infinito ]

Por incontáveis gerações os adeptos vêm construindo um templo de rochas imperecíveis, uma Torre gigantesca de PENSAMENTO INFINITO, onde o Titã morava, e onde, se for necessário, voltará a morar solitário, saindo dela somente no final de cada ciclo, para convidar os eleitos da humanidade a cooperarem com ele e o auxiliarem por sua vez a iluminar o homem supersticioso. E continuaremos nesse nosso trabalho periódico; e não deixaremos de lado as nossas intenções filantrópicas até aquele dia em que os alicerces de um novo continente de pensamento estejam tão firmemente consolidados que nenhuma opressão ou maldade ignorante, guiada pelos Irmãos das Sombras, possa prevalecer. (I, 129)

[3. A Sabedoria Não Está nas Palavras ]

Na Ciência Oculta os segredos não podem ser transmitidos subitamente, mediante uma comunicação escrita, nem mesmo oral. Se fosse assim, tudo o que os “Irmãos” [2] teriam que fazer seria publicar um Manual de Instruções que poderia ser ensinado nas escolas, ao lado da gramática. É um erro comum das pessoas acreditarem que nós nos envolvemos, e envolvemos os nossos poderes, em mistério por vontade nossa; que desejamos manter nosso conhecimento para nós mesmos, e que por nossa própria vontade nos recusamos a transmiti-lo - “deliberadamente e de modo irresponsável”. A verdade é que, até que o neófito atinja a condição necessária para aquele grau de Iluminação para o qual ele está qualificado e apto, a maior parte dos segredos, se não todos eles, é incomunicável. A receptividade deve ser tão grande quanto o desejo de instruir. A iluminação deve vir de dentro. Até lá, nenhum truque de encantamento ou jogo de aparências, nem palestras ou discussões metafísicas, e tampouco penitências auto-impostas, podem dar essa iluminação. Todos estes são apenas meios para um fim, e a única coisa que podemos fazer é dirigir o uso destes meios, que, como foi comprovado pela experiência das idades, levam ao objetivo buscado. E há milhares de anos que isto não é segredo. Jejum, meditação, castidade em pensamento, palavra e ação; silêncio durante certos períodos de tempo para permitir que a própria natureza fale a quem se aproxima dela em busca de informação; domínio das paixões e impulsos animais; completa ausência de egoísmo nas intenções, e o uso de certo incenso e certas fumigações com objetivos fisiológicos, têm sido apontados como instrumentos desde a época de Platão e Jâmblico, no Ocidente, e desde os tempos ainda mais remotos de nossos Rishis hindus. A maneira como tudo isso deve ser posto em prática de modo que seja adequado para cada temperamento, é, naturalmente, tema de experimentação da própria pessoa e da cuidadosa observação de seu tutor ou guru. Isso é de fato uma parte do seu aprendizado, e seu guru ou iniciador só pode ajudá-lo com a sua experiência e força de vontade, mas não pode fazer nada mais que isso, até a última e suprema iniciação. Penso também que poucos candidatos imaginam o grau não só de desconforto, mas de sofrimento e sacrifício, a que o mencionado iniciador se submete pelo bem do seu discípulo. As condições específicas, físicas, morais e intelectuais, de neófitos e Adeptos são muito diferentes, como qualquer pessoa pode compreender facilmente. Assim, em cada caso, o instrutor tem que adaptar as suas condições às do discípulo, e a tensão é terrível, pois para conseguir êxito temos que nos colocar em plena sintonia com o indivíduo em treinamento. E quanto maiores os poderes do Adepto, menos ele está em simpatia com a natureza do profano, que, com freqüência, vem até ele saturado com as emanações do mundo exterior, aquelas emanações animais da multidão egoísta e brutal que tanto tememos; quanto mais afastado o instrutor se encontra desse mundo e quanto mais puro se tenha tornado, tanto mais difícil é a tarefa a que se impõe. Além disso, o conhecimento só pode ser comunicado gradualmente; e alguns dos segredos mais elevados, se fossem expressados, mesmo a seus ouvidos bem preparados, poderiam soar a você como um palavrório insano, apesar de toda a sinceridade de sua atual convicção de que “a confiança absoluta desafia a incompreensão”. Esta é a causa verdadeira da nossa reserva. É por isso que as pessoas se queixam tão freqüentemente, com uma demonstração plausível de razão, de que nenhum conhecimento novo lhes é comunicado, apesar de terem estado se esforçando por ele, dois, três ou mais anos. Aqueles que realmente desejam aprender devem abandonar tudo e vir até nós, em vez de pedir ou esperar que nós avancemos até eles. Mas como isso pode ser feito em seu mundo e sua atmosfera? (I, 134-135)

[ 4. É Impossível Fazer uma Transmissão Súbita ]

Como posso expressar idéias para as quais até agora você não conhece palavras? As mentes mais refinadas e sensíveis, como a sua, recebem mais que as outras, e mesmo quando estas últimas recebem uma pequena dose extra, esta se perde pela falta de palavras e imagens que fixem as idéias flutuantes. Talvez, e indubitavelmente, você não saiba a que me refiro agora, mas saberá um dia - paciência. Dar a um homem mais conhecimento do que ele está capacitado para receber é uma experiência perigosa, e, além disso, há outras considerações que me limitam. A comunicação súbita de fatos que transcendem tanto o comum é em muitos casos fatal, não só para o neófito, mas também para os que o rodeiam. (I, 136)

[5. Há uma Relação Simétrica Entre o Esforço do Mestre e o Esforço do Discípulo ]

Resumindo: o mau uso do conhecimento pelo discípulo sempre reage sobre o iniciador, e nem creio que você saiba que, ao compartir os seus segredos com alguém, o Adepto, devido a uma Lei imutável, retarda o seu progresso para o Repouso Eterno. Talvez o que digo agora possa ajudá-lo a obter uma concepção mais verdadeira das coisas, e a avaliar melhor a nossa posição mútua. Vagar ociosamente pelo caminho não conduz a uma rápida chegada ao fim da jornada. E deve soar a você como uma verdade evidente que alguém deve pagar um preço por tudo e por qualquer verdade, e, nesse caso – NÓS pagamos. Não tenha medo; estou disposto a pagar a minha parte, e disse isto aos que me colocaram a questão. Não o abandonarei, nem me mostrarei menos disposto ao sacrifício que a pobre e depauperada mortal que chamamos de “Velha Senhora”[3]. (I, 136-137)

[6. A Verdade Não Necessita de Deuses ou Anjos ]

A Verdade se sustentará sem a inspiração de Deuses ou Espíritos, e melhor ainda, se sustentará apesar deles; os “anjos” em geral não fazem mais que sussurrar falsidades e aumentar a quantidade de superstições. (I, 140)

[7. Mestres Julgam os Seres Humanos Pelas Suas Intenções ]

Nós, asiáticos semi-selvagens, julgamos um homem pelas suas intenções e as suas são todas sinceras e boas. Mas você tem que lembrar que está numa escola muito dura, e tratando agora com um mundo inteiramente diferente do seu. Especialmente, você tem que ter em mente que a mais leve causa produzida, mesmo inconscientemente e com qualquer intenção, não pode ser desfeita, nem é possível interceptar o progresso dos seus efeitos - nem com a força combinada de milhões de deuses, demônios e homens. (I, 141)

[8. Um Lustrador de Botas Honesto é Tão Bom Quanto um Rei Honesto ]

Para nós um lustrador de botas honesto é tão bom quanto um rei honesto, e (...) um varredor de ruas imoral é muito melhor e mais desculpável do que um imperador imoral ... (I, 158)

[9.  Todo Sábio Deixa de Lado Dor e Prazer Pessoais ]

... Lembrem que a primeira exigência, mesmo para um simples faquir, é que ele deve ter treinado a si mesmo até saber permanecer indiferente tanto à dor moral como ao sofrimento físico. Nada pode causar, em NÓS, dor ou prazer pessoais. (I, 159)

[10. O Ceticismo em Torno dos Mestres Garante a Paz Deles ]

Gostaria de poder imprimir em suas mentes uma profunda convicção de que não desejamos que o sr. Hume ou você provem conclusivamente ao público que nós realmente existimos. Por favor, compreenda o fato de que, enquanto os homens duvidarem, haverá curiosidade e pesquisa, e que a pesquisa estimula a reflexão, que gera o esforço; mas, uma vez que o nosso segredo tenha sido completamente vulgarizado, não só a sociedade cética não terá grandes benefícios, como também a nossa privacidade estaria constantemente em perigo e teria que ser resguardada a um custo irracional de energia. (.....)  Ah, Sahibs, Sahibs! Se vocês pudessem pelo menos catalogar-nos, rotular-nos e colocar-nos no Museu Britânico, então de fato o seu mundo poderia ter a verdade absoluta, a verdade dissecada. (I, 163)

[11. Dogmatismo Religioso é Incompatível Com Teosofia]

O que temos nós, discípulos dos verdadeiros Arhats, do Budismo esotérico e de Sang gyas, a ver com os Shastras [4] e o Brahmanismo ortodoxo? Há 100 milhares de faquires, sannyasis e sadhus levando vidas totalmente puras e, entretanto, porque estão no caminho do erro, nunca tiveram uma oportunidade de nos encontrar, de nos ver ou sequer ouvir falar de nós. Os antepassados deles expulsaram da Índia os seguidores da única filosofia verdadeira existente sobre a terra [5], e agora não são estes que irão até eles, mas eles é que devem vir até nós se o quiserem.  Quem entre eles está disposto a se tornar um budista, um Nastika [6] , como eles nos chamam? Ninguém. Aqueles que acreditaram em nós e nos seguiram obtiveram a sua recompensa. Os senhores Sinnett e Hume são exceções. As suas crenças não são barreiras para nós, pois não têm nenhuma. Eles podem ter tido influências ao seu redor, más emanações magnéticas resultantes da bebida, da sociedade mundana e de associações físicas promíscuas (resultantes até mesmo de apertar a mão de homens impuros); mas todos esses impedimentos são físicos e materiais, aos quais podemos nos opor com um pequeno esforço, e mesmo eliminá-los sem muito esforço para nós. Mas é diferente com o magnetismo e os resultados invisíveis produzidos por crenças errôneas e sinceras. [7] A fé em Deuses ou em Deus e outras superstições atraem milhões de influências alheias, entidades vivas e poderosos agentes para perto das pessoas, e nos veríamos obrigados a usar algo mais que o exercício comum de poder para afastá-los. Nós decidimos não fazê-lo. Não consideramos necessário nem proveitoso perder o nosso tempo travando uma guerra com planetários atrasados que se deliciam personificando deuses e, às vezes, personagens famosos que viveram na terra. (I, 165,166)


NOTAS:

[1] O “final do ciclo” ocorreu entre os anos 1897 e 1900. Em 1897 completaram-se os primeiros 5.000 anos do Kali Yuga.  Em 1900 houve a passagem para a Era de Aquário. A missão de Helena Blavatsky, feita sob a coordenação dos Mestres, preparou estes dois eventos.

[2] “Irmãos”, isto é, Adeptos, Mahatmas, Mestres.

[3] “Velha Senhora”: H. P. Blavatsky.

[4] Shastras - Escrituras sagradas do hinduísmo.

[5] Menção ao fato de que, na antiguidade, os hindus ortodoxos expulsaram os budistas da Índia.  Já no século 20, o líder indiano Mohandas “Mahatma” Gandhi, cuja filosofia é amplamente teosófica, foi assassinado a sangue frio em 1948 por um hindu ortodoxo radical.  

[6] “Nastika” - Ateu, ou alguém que não reconhece deuses e ídolos.

[7] Para os Mestres, mais importante que a pureza meramente física é a intenção do indivíduo, conforme foi dito em trecho citado antes. O fanatismo fecha a porta para a verdade e acaba em hipocrisia. Este princípio é ilustrado no Novo Testamento através do modo como Jesus enfrenta os escribas e fariseus. Veja por exemplo João, 8: 1-11, e Mateus, 23: 13-29. 

O texto acima é reproduzido da edição de março de 2012 do boletim “O Teosofista”, cuja coleção completa pode ser encontrada em seção temática independente em www.FilosofiaEsoterica.com .


Para ter acesso a um estudo diário da teosofia original, escreva a lutbr@terra.com.br  e pergunte como é possível acompanhar o trabalho do e-grupo SerAtento.

A CARTA DO GRANDE MESTRE



Uma Chave Para Visualizar o Futuro

Um Mahatma dos Himalaias


 
1. Introdução: a Importância do Documento

A história registra que, em 1881, um dos raja-iogues ou Mestres de Sabedoria que orientavam o trabalho teosófico na sua fase pioneira decidiu buscar conselhos,  e consultou o seu próprio instrutor.

O Mestre dos Mestres  foi então ouvido. O tema era a natureza, a meta e o rumo do movimento que estava sendo iniciado.

O instrutor que foi consultado é chamado pelos Mestres simplesmente de Chohan.  A palavra “Chohan” significa “Senhor”.  Mais tarde, este mesmo Sábio passou a ser frequentemente referido como “Maha-Chohan”.  Um dos instrutores de H. P. Blavatsky qualificou-o em certa ocasião como “a rocha das idades”.  Em outro momento, referiu-se ao Chohan como  aquele para quem o futuro é como uma página aberta”.[1]   Nas publicações da Loja Unida de Teosofistas, a LUT, ele é mencionado como “o Grande Mestre”.

Depois da consulta com o Chohan, o Mestre fez um relato da conversa.  Este texto é a mais autorizada descrição da Missão que deveria ser cumprida pelo movimento teosófico e esotérico autêntico, não só nas décadas, mas também nos séculos seguintes. Ele contém uma profecia extraordinária, e positiva, sobre o progresso cultural e histórico da nossa humanidade. Ao contrário de tantas “profecias” que se limitam a anunciar grandes desastres, o texto aponta o rumo da transição vitoriosa dos seres humanos (não sem sacrifícios)  para uma nova era de paz e de fraternidade planetária. 

Entre outros motivos, a Carta do Grande Mestre tem especial importância  porque nela encontramos elementos centrais de informação sobre a religião do futuro.  Ela dá os contornos gerais de uma religiosidade que deve surgir mais claramente durante o século 21.   Havia, porém, uma dúvida a respeito do conteúdo exato da carta,  em uma passagem das mais decisivas.  O texto transcrito por C. Jinarajadasa no volume “Cartas dos Mestres de Sabedoria” (Ed. Teosófica)  diz o seguinte:

“A Sociedade Teosófica foi escolhida como a pedra fundamental, o alicerce das religiões futuras da humanidade.” [2]  

A passagem inspira alguns questionamentos.  Existirão, no futuro, muitas religiões competindo entre si? Ou haverá uma única religião global, ainda que não-autoritária? 

O original da Carta do Chohan desapareceu, e há mais de uma cópia dele. Nos primeiros anos do movimento, cópias das Cartas dos Mahatmas circulavam privadamente entre os estudantes. A Sociedade Teosófica de Pasadena − que ao lado da Sociedade de Adyar e da Loja Unida de Teosofistas é uma das principais correntes internacionais de pensamento esotérico − publicou a versão do texto que está no Museu Britânico.  Nesta versão, o documento menciona a religião futura, no singular:

“A Sociedade Teosófica foi escolhida como a pedra fundamental, o alicerce da religião futura da humanidade.” [3]

Neste caso o mestre teria afirmado que a religião do futuro será uma só – naturalmente não-burocratizada e incluindo a necessária diversidade cultural.  

Com o objetivo de  verificar e comprovar diretamente os fatos, o e-grupo SerAtento e o website www.filosofiaesoterica.com  tomaram providências para obter  uma cópia autêntica da mais autorizada versão da Carta do Chohan que existe no mundo. Esta é, sem dúvida, a cópia feita a caneta pelo próprio Alfred Sinnett, o homem que a recebeu do Mestre. Esta versão da carta está no setor de Manuscritos Raros da Biblioteca Britânica (British Library),  em Londres, e seu número de identificação é 45289A.   Em maio de 2009,  foi obtida junto à Biblioteca Britânica uma cópia autenticada completa do manuscrito  45289A   – a Carta do Chohan ou  Grande Mestre.  

O exame direto da carta confirma o fato de que a frase correta é:

“A Sociedade Teosófica foi escolhida como a pedra fundamental, o alicerce da religião futura da humanidade.”

Esta comprovação é importante por vários motivos.  Um deles é que ainda hoje a maior parte das publicações teosóficas internacionais – inclusive as que estão voltadas para a teosofia original – continuam a divulgar a frase equivocada, falando de “religiões”, no plural, tal como na versão de C. Jinarajadasa.  

É importante observar também que, na última frase da carta, há uma referência à “verdadeira filosofia, a verdadeira religião”, no singular.

A religião do futuro é a religião-filosofia, a religião-sabedoria.

Ela é uma, mas não é autoritária, e portanto inclui o princípio da diversidade cultural. Ela tem como base a percepção direta e a vivência da fraternidade universal que une todos os seres. Internamente una, ela pode ser vista como externamente múltipla.

Transcrevemos a seguir (logo depois das notas bibliográficas) a íntegra da profética “Carta do Grande Mestre”, com a devida correção na frase sobre a religião do futuro.

(Carlos Cardoso Aveline)


NOTAS:

[1  Sobre  a alusão ao “futuro como uma página aberta”,  veja “Cartas dos Mestres de Sabedoria”, editadas por C. Jinarajadasa, Editora Teosófica, Brasília, 1996,  p. 57 .   Sobre a alusão a “rocha das idades” ou “rocha das eras”,  veja “Cartas dos Mahatmas Para A.P. Sinnett”, Ed. Teosófica, Brasília, primeiro parágrafo da Carta 18, volume I, p. 112.  

[2] Carta 01, primeira série, em “Cartas dos Mestres de Sabedoria”, obra citada, p. 18.

[3]“View of the Chohan on the T.S.”, texto incluído no volume “Combined Chronology – For use with 'The Mahatma Letters to A.P. Sinnett'  and  'The Letters of H.P.B. To A.P.Sinnett' ”, by Margaret Conger, T.U.P.,  Pasadena, California, 1973, 48 pp., ver especialmente a  p. 44.


2. A Íntegra da Carta do Grande Mestre


A doutrina que promulgamos, por ser a única verdadeira, deve, apoiada em provas como as que estamos por oferecer, triunfar, afinal, como qualquer outra verdade. Contudo, é absolutamente necessário incuti-la gradualmente, colocando em prática suas teorias, fatos inquestionáveis para aqueles que sabem, com inferências diretas deduzidas das — e corroboradas pelas — evidências fornecidas pelas modernas Ciências Exatas. Esta é a razão pela qual o Coronel H.S.O., que trabalha apenas para reviver o Budismo, pode ser visto como alguém que se esforça na verdadeira senda da teosofia, muito mais do que qualquer outra pessoa que escolha como meta a gratificação de suas próprias e ardentes aspirações ao conhecimento oculto. Despojado de suas superstições, o Budismo é verdade eterna, e aquele que se esforça por encontrar esta última está buscando a Theo-Sophia, Sabedoria Divina, que é um sinônimo da verdade.

Para que nossas doutrinas ajam de forma prática sobre o assim chamado código moral, ou as idéias de retidão, pureza, auto-esquecimento, caridade, etc., temos de popularizar o conhecimento da Teosofia. O que caracteriza o verdadeiro teosofista não é o objetivo individual e determinado de obter para si mesmo o Nirvana (culminação de todo conhecimento e sabedoria absoluta) — o que, afinal, é apenas um sublime e glorioso egoísmo — mas a dedicação à busca com auto-sacrifício do melhor meio para levar nosso próximo ao caminho correto, beneficiando o maior número possível de nossos semelhantes.

Os setores intelectualizados da humanidade parecem estar-se dividindo rapidamente em dois grupos. Um prepara-se inconscientemente para longos períodos de aniquilação temporária, ou estados de não-consciência, devido ao abandono deliberado de seu intelecto, e aprisionamento nas estreitas trilhas do fanatismo religioso e da superstição, processo que inevitavelmente conduz à total deformação do princípio intelectual; o outro entrega-se desenfreadamente a seus impulsos animais, com a intenção deliberada de submeter-se à aniquilação pura e simples em caso de fracasso, e a milênios de degradação após a dissolução física. Essas “classes intelectuais”, agindo sobre as massas ignorantes que elas atraem, e que as vêem como nobres e dignos exemplos a seguir, rebaixam e degradam moralmente aqueles que deveriam proteger e orientar. Entre a superstição degradante e o ainda mais degradante e brutal materialismo, a pomba branca da verdade dificilmente encontra um lugar onde possa descansar seus pés desprezados e exaustos.

Já é tempo de a teosofia entrar em cena; os filhos dos teosofistas serão mais provavelmente teosofistas, em seu tempo, do que qualquer outra coisa. Nenhum mensageiro da verdade, nenhum profeta jamais conquistou, durante seu tempo de vida, um completo triunfo, nem mesmo Buda. A Sociedade Teosófica foi escolhida como a pedra fundamental, o alicerce da religião futura da humanidade. Para alcançar o objetivo proposto, foi determinado que houvesse uma convivência maior, mais sábia, e especialmente mais benevolente, do superior com o inferior, do Alfa e do Ômega da sociedade. A raça branca deve ser a primeira a estender a mão da fraternidade aos povos de cor escura e a chamar de irmão o pobre “negro” desprezado. Esta perspectiva pode não agradar a todos, mas não é teosofista aquele que se opõe a este princípio.

Em vista do sempre crescente triunfo e, ao mesmo tempo, mau uso do livre-pensamento e da liberdade (o reino universal de Satã, como o chamaria Eliphas Levi), como poderia o instinto combativo natural do homem ser impedido de infligir crueldades e atrocidades,  tirania, injustiça, etc., até hoje inimagináveis, se não através da tranqüilizadora influência de uma fraternidade e da aplicação prática das doutrinas esotéricas de Buda?

Pois, como todos sabem, a libertação total da autoridade do poder único ou lei que a tudo impregna, chamada de Deus pelos padres — Buda, Sabedoria Divina e iluminação ou Teosofia pelos filósofos de todas as épocas — significa também a emancipação, no mesmo sentido, da lei humana.

As doutrinas fundamentais de todas as religiões se comprovarão idênticas em seu significado esotérico, uma vez que sejam desagrilhoadas e libertadas do peso morto representado pelas interpretações dogmáticas, dos nomes pessoais, das concepções antropomórficas e dos sacerdotes assalariados. Osíris, Krishna, Buda e Cristo serão apresentados como nomes diferentes de uma mesma estrada real para a bem-aventurança final, o Nirvana.

O Cristianismo místico, isto é, aquele Cristianismo que ensina a autolibertação através do nosso próprio sétimo princípio — o Para-Atma (Augoeides) libertado, chamado por alguns de Cristo, por outros, de Buda, e equivalente à regeneração ou renascimento em espírito — será visto como  exatamente a mesma verdade do Nirvana do Budismo. Todos nós temos de nos livrar de nosso próprio Ego, o ser ilusório e aparente, a fim de reconhecer nosso verdadeiro ser em uma vida divina transcendental. Mas, se não formos egoístas, devemos esforçar-nos e fazer com que outras pessoas vejam essa verdade, e reconheçam a realidade desse ser transcendental, o Buda, Cristo ou Deus de cada pregador. Esta é a razão por que mesmo o Budismo exotérico é o caminho mais seguro para conduzir os homens em direção à única verdade esotérica.

Do modo como se encontra o mundo agora, seja cristão, muçulmano ou pagão,  a justiça é desconsiderada, enquanto a honra e a piedade são atiradas ao vento. Numa palavra, vendo que os objetivos principais da S.T. são mal interpretados por aqueles mais interessados em nos ajudar pessoalmente, como iremos lidar com o restante da humanidade, em meio à maldição conhecida como “luta pela vida”, que é a real e mais prolífica causa da maioria das desgraças e tristezas e de todos os crimes? Por que esta luta teve que tornar-se o esquema quase universal do universo? Nós respondemos: porque nenhuma religião, com exceção do Budismo, ensinou até agora um desapego prático por essa vida mundana, enquanto cada uma delas — sempre com aquela única e solitária exceção — através de seus infernos e danações, inculcou o maior pavor em relação à morte. Por isso nós encontramos, de fato, esta luta pela vida imperando mais violentamente nos países cristãos, prevalecendo especialmente na Europa e na América. Ela é mais fraca nas terras pagãs e praticamente  desconhecida entre as populações budistas. (Na China, durante um período de fome, onde as massas são mais ignorantes em relação a sua própria religião ou a qualquer outra, foi notável o fato de que aquelas mães que devoraram seus filhos pertencessem às localidades onde se encontrava a maior quantidade de missionários cristãos; onde não havia nenhum deles e apenas os bonzos possuíam a terra, a população morria com o máximo de indiferença). Ensine-se ao povo a ver que a vida nesta Terra, mesmo a mais feliz, é apenas um fardo e uma ilusão, que apenas o nosso próprio karma, a causa que produz um efeito, é nosso próprio juiz, — nosso salvador em vidas futuras — e a grande luta pela vida em breve perderá sua intensidade. Não há penitenciárias nas terras budistas, e o crime é praticamente desconhecido entre os budistas no Tibete. (O que foi dito acima não é dirigido a você, ou seja, A.P.S., e nada tem a ver com o trabalho da Sociedade Eclética de Simla. Pretende apenas dar uma resposta à impressão equivocada do Sr. Hume a respeito do “trabalho do Ceilão” como não sendo Teosofia).

O mundo em geral, e especialmente a cristandade, abandonado por dois mil anos ao regime de um Deus pessoal, bem como a seus sistemas políticos e sociais baseados nessa idéia, provou agora ser um fracasso. Se os teosofistas dizem: “Nada temos com tudo isso; as classes mais baixas e as raças inferiores (aquelas da Índia, por exemplo, na concepção dos britânicos) não são motivo de preocupação para nós e devem arranjar-se como podem” — o que acontece com nossas belas  declarações sobre benevolência, filantropia, reforma etc.? Serão tais declarações falsas?  E se forem falsas, poderá a nossa senda ser a verdadeira? Não deveríamos nos dedicar a ensinar a alguns poucos europeus, que vivem na abundância — muitos deles carregados  com as dádivas de uma fortuna imerecida — a explicação racional dos fenômenos de campainhas soando no ar, da materialização de xícaras, do telefone espiritual e da formação do corpo astral, e deixar os numerosos milhões de ignorantes, de pobres e desprezados, humildes e oprimidos, tomar conta de si mesmos e de sua vida futura da melhor forma que puderem? Nunca! Antes pereça a S.T., com os seus dois infelizes fundadores, do que permitirmos que ela se transforme em mera academia de magia, um centro de ocultismo. Que nós, os devotados seguidores daquele espírito encarnado do absoluto auto-sacrifício, da filantropia, da divina benevolência, assim como de todas as mais elevadas virtudes que se pode alcançar nesta terra de tristeza — o homem dos homens, Gautama Buda — permitíssemos, em algum momento, à S.T. representar a corporificação do egoísmo, o refúgio dos poucos que jamais pensam nos muitos, é uma estranha idéia, meus irmãos.

Entre os poucos vislumbres obtidos pelos europeus acerca do Tibete e de sua hierarquia mística de “Lamas perfeitos”, há um que foi corretamente compreendido e descrito. “A encarnação do Bodhisattva, Padma Pani, ou Avalokitesvara e Tsong-ka-pa e a de Amitabha, que renunciavam, na sua morte, à obtenção do Budado — ou seja, o summum bonum da bem-aventurança e da felicidade pessoal individual — de forma a nascerem mais e mais vezes em benefício da humanidade”. (R.D.) Em outras palavras, que deveriam ser submetidos reiteradamente à miséria, ao aprisionamento da carne e a todas as tristezas da vida, para que, através deste auto-sacrifício, repetido através de longos e monótonos séculos, pudessem tornar-se os meios de assegurar a salvação e a bem-aventurança futura para um punhado de homens escolhidos entre uma das muitas raças da humanidade. E é de nós, os humildes discípulos destes Lamas perfeitos, que se espera aprovação para que a S.T. abandone seu nobre título de Fraternidade da humanidade e torne-se uma simples escola de Psicologia. Não, não, bons irmãos, vocês já estão equivocados há demasiado tempo. Vamos entender-nos bem. Aquele que não se sente competente o bastante para compreender suficientemente a nobre idéia, para trabalhar por ela, não necessita assumir uma tarefa que é muito pesada para ele. Mas dificilmente haverá um teosofista em toda a Sociedade, que não possa auxiliá-la eficientemente através da correção das impressões errôneas dos de fora, quando não ajudar realmente através da propagação dessa idéia. Ah, o homem nobre e altruísta que nos auxiliar efetivamente, na Índia, nesta divina tarefa! Todo nosso conhecimento, passado e presente, não seria suficiente para recompensá-lo.

Tendo explicado nossos pontos de vista e aspirações, tenho apenas mais umas poucas palavras a acrescentar. Para serem verdadeiras, a religião e a filosofia têm de oferecer a solução de todos os problemas. Que o mundo esteja moralmente em tão má condição é uma evidência conclusiva de que nenhuma de suas religiões e filosofias, aquelas das raças civilizadas menos do que qualquer outra, jamais possuíram a verdade. As explanações corretas e lógicas sobre os problemas dos grandes princípios duais — certo e errado, bem e mal, liberdade e despotismo, dor e prazer, egoísmo e altruísmo — são tão impossíveis para elas agora como eram há 1881 anos atrás. Elas estão tão longe da solução quanto sempre estiveram; mas deve haver, em algum lugar, uma solução consistente para estes problemas e, se nossas doutrinas provarem sua competência em oferecê-la, então o mundo será o primeiro a confessar que esta deve ser a verdadeira filosofia, a verdadeira religião, a verdadeira luz, a qual dá a verdade e nada mais que a verdade.

(Final da Carta)


Um estudo mais amplo sobre a Carta do Grande Mestre pode ser encontrado neste website através da  Lista de Textos por Ordem Alfabética. Seu  título é “Carta Sobre o Futuro da Humanidade”.


Para ter acesso a um estudo regular da filosofia esotérica original, escreva a  lutbr@terra.com.br  e pergunte como é possível acompanhar o trabalho do e-grupo SerAtento.
Fonte:http://www.vislumbresdaoutramargem.com/2011/07/carta-do-grande-mestre.html

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