FILME "TRAPAÇA" É FORTE CANDIDATO AO OSCAR,FAZENDO RETRATO CÔMICO E POP DO MUNDO DO CRIME


Forte candidato ao Oscar, "Trapaça" faz retrato cômico e pop do mundo do crime

Com Christian Bale e Jennifer Lawrence, filme do diretor David O. Russell é líder de indicações ao prêmio

Na primeira cena de "Trapaça", novo filme de David O.Russell, o ator Christian Bale se olha diante do espelho. Usando camisa listrada, terno de veludo vermelho e óculos escuros, ele ajeita uma horrorosa peruca na cabeça: separa as mechas, passa a cola, cobre o cabelo falso com o verdadeiro, finaliza com spray.
Trata-se da perfeita introdução para o longa de Russell, que lança olhar pop e cômico sobre o crime e a corrupção na Nova York dos anos 1970. Se não é tão relevante quanto "12 Anos de Escravidão" ou tecnicamente inovador como "Gravidade", seus dois principais concorrentes no Oscar, "Trapaça" tem a vantagem de ser o mais leve dos indicados, e possivelmente o agrado mais fácil à plateia.
O filme chega às salas brasileiras em 7 de fevereiro, mas já tem sessões de pré-estreia em Rio de Janeiro e São Paulo.

Para criar "Trapaça", Russell se inspirou no escândalo conhecido como Abscam, dos anos 1970, quando o FBI (polícia federal americana) contou com a colaboração de um criminoso para incriminar peixes maiores. Na operação, políticos foram filmados aceitando propina de um fictício milionário do Oriente Médio.
Na versão do filme, Bale é Irving Rosenfeld, ambicioso empresário criado no Bronx, em Nova York, cuja rede de lavanderias serve de fachada para seu verdadeiro negócio: vender obras de arte falsificadas. Em uma festa ele conhece e se apaixona por Sydney Prosser (Amy Adams), ex-stripper que passa a ajudá-lo em seus golpes.

Os dois são obrigados a colaborar com o FBI após serem presos em flagrante por Richie DiMaso (Bradley Cooper), desequilibrado agente que encabeça uma operação anticorrupção. O trabalho em conjunto inclui uma série de dificuldades, da aproximação entre Sydney e Richie até o imprevisível temperamento de Rosalyn (Jennifer Lawrence), a mulher de Irving, que se recusa a aceitar o divórcio.
O trama de "Trapaça" perde certa força conforme as complicações se acumulam. No início, Irving e Sydney aplicam golpes de pequena escala, promessas de empréstimos que nunca são pagos (um esquema pouco detalhado por Russell, numa falha de roteiro). Depois, se veem mergulhados em problemas e obrigados a aplicar novos golpes para escaparem do FBI, de políticos e até da máfia.


Divulgação
Imagem do filme 'Trapaça'

O tema de Russel é a busca pela sobrevivência, os truques, adaptações e viradas de mesa que seus personagens precisam orquestrar para se manter de pé. Em vários momentos o diretor ecoa o cinema de Martin Scorsese, usando desde seus temas mais comuns (crime, corrupção, o universo das ruas de Nova York) até recursos formais como narração e câmera ágil. A participação um tanto gratuita de Robert De Niro como chefe de máfia, por si só, já funciona como referência óbvia.
"Trapaça", porém, é bem mais raso do que, por exemplo, "Os Bons Companheiros", e até do que "O Lobo de Wall Street", também em cartaz no Brasil e longe de ser um dos melhores trabalhos de Scorsese. O que o filme de Russell tem, inegavelmente, é um agradável clima de diversão - das roupas e penteados ridículos às atuações de um elenco que claramente se divertiu enquanto filmava.
Bale é quem mais se destaca, genuinamente engraçado em um papel que evoca tipos encarnados por DeNiro. Adams não é tão sexy e poderosa quanto Sydney, mas tem talento suficiente para deixar sua marca e não ser ofuscada pelos profundos decotes que usa em todas as cenas. Por sua vez, Cooper e Lawrence, o casal de "O Lado Bom da Vida", podem exagerar à vontade na pele dos dois personagens mais loucos, e que também rendem bons momentos.
Nenhum dos quatro chega a entregar a melhor atuação de suas carreiras, assim como um Oscar de "Trapaça" coroaria um filme mediano como o melhor do ano. Não é para tanto, mas vale o ingresso. 



Veja o trailer de "Trapaça":



Fonte:http://ultimosegundo.ig.com.br/cultura/cinema/2014-01-24/

Com ‘Trapaça’, David O.Russell fala sobre os ‘sonhadores assumidos’

  • Longa que surge como um dos filmes mais celebrados da temporada estreia no Brasil no dia 24/01/2014

Personagens, personagens, personagens. Diretor preferido de nove entre dez estrelas de Hollywood, David O. Russell repete a palavra três vezes quando questionado sobre o que lhe interessa mais na carpintaria do cinema. “Trapaça”, que estreia no Brasil no dia 24, é um estudo dramático em torno de cinco personagens, ligeiramente baseados em figuras de carne e osso envolvidas no desbaratamento de um crime de colarinho branco pelo FBI nos anos 1970, em Nova Jersey.
Antes de o filme começar, o espectador lê o aviso: “Alguns dos eventos aqui retratados de fato aconteceram”. É a pista para deixar em segundo plano os paralelos com a caça às bruxas corruptas iniciada nos EUA imediatamente após o escândalo de Watergate e direcionar toda a atenção para as criaturas vividas por Christian Bale — 19 quilos mais gordo e em estado de graça, em uma de suas melhores atuações —, Amy Adams, Jennifer Lawrence, Bradley Cooper e Jeremy Renner, todos, invariavelmente, insatisfeitos com o cotidiano e prontos para transformações radicais em suas vidas.
— O que é um prato cheio para mim. Meu impulso para começar a filmar é o de encontrar personagens de fato capazes de me emocionar. Depois é que começo a pensar no universo em torno deles. E, por último, bem no fim, na trama em si. Achei a maior graça quando se disse que “O vencedor” (Oscar de melhor ator e atriz coadjuvantes, em 2011, para Bale e Melissa Leo) era um “filme de luta”. Ora, a única coisa que sei de boxe aprendi vendo “Touro indomável” (1980), de (Martin) Scorsese, de quem sou fã incondicional. “O vencedor” é um filme de personagens, exatamente como “O lado bom da vida” (Oscar de melhor atriz para Lawrence, no ano passado), que não, não é uma “comédia romântica”. “Trapaça” é meu terceiro filme em sequência sobre personagens que querem se reinventar, que são sonhadores assumidos. O que busco é retratar grandes crises de amor e paixões intensas da forma mais honesta possível — diz.
Um dos filmes mais celebrados pela crítica americana na temporada de premiações — e em um ano especialmente forte, com competidores como “Gravidade”, do mexicano Alfonso Cuarón; “Nebraska”, de Alexander Payne; “Dallas buyers club”, do canadense Jean-Marc Valée; “Ela”, de Spike Jonze; “O lobo de Wall Street”, de Scorsese; “Inside Llewin Davis — Balada de um homem comum”, dos irmãos Coen; “Blue Jasmine”, de Woody Allen, e “12 years a slave”, “Capitão Phillips” e “Philomena”, respectivamente dos ingleses Steve McQueen, Paul Greengrass e Stephen Frears —, “Trapaça” foi indicado a sete Globos de Ouro (melhor filme; ator, Bale; atriz, Adams; coadjuvante, tanto Cooper quanto Lawrence; diretor e roteiro, ambos para Russell), a dois prêmios do Screen Actors Guild (melhor elenco e melhor coadjuvante para Lawrence) e ainda foi escolhido o filme do ano pelas associações de críticos de Nova York e Washington. Na “New Yorker”, David Denby termina sua crítica afirmando que David O. Russell “nos oferece tantos prazeres imediatos na tela que parte do público pode até pensar que ‘Trapaça’ não é um filme de arte, tal qual ‘Llewin Davis’ ou ‘Nebraska’, mas estes estão equivocados. No mundo criado por Russell, você só está de fato vivo se souber brincar de viver. Uma arte cuja maior devoção são os apetites humanos é tão merecedora da imortalidade quanto invenções formais mais austeras”.
“Liberdade emocional”
“Trapaça” é narrado, ocasionalmente, pelo Irving Rosenfeld de Bale e pela Sydney Prosser de Amy Adams. Eles se conhecem em uma festa, apaixonam-se ao descobrir que Duke Ellington é sua trilha sonora favorita e se unem em um esquema de pirâmide pré-Madoff descoberto pelo ambicioso agente Richie DiMaso, papel de Bradley Cooper. Barrigudo, com um impecável sotaque de malandro do Bronx, Rosenfeld é casado com a temperamental e infeliz Rosalyn de Jennifer Lawrence e é quem mais desconfia da proposta oferecida por DiMaso para escapar do xilindró: ajudar os federais em uma cilada contra políticos interessados na revitalização da já decadente Atlantic City e suscetíveis a subornos milionários, notadamente o bem-intencionado prefeito Carmine Polito, vivido por Jeremy Renner.
— Quando vi as fotos de Mel Weinberg, o protagonista da história real, pensei imediatamente nas possibilidades incríveis que tínhamos pela frente. O modo como David (O. Russell) trabalha, separadamente, com cada ator, é de fato diferente de tudo o que fiz anteriormente — elogia Bale.
Exatamente como em suas duas últimas produções, sai-se de “Trapaça” com várias cenas na cabeça. Em um filme que conta ainda com Robert DeNiro (em uma ponta engraçadíssima, como um mafioso, sem crédito na ficha técnica do filme) e com o comediante Louis C.K. no elenco, dá o que pensar o fato de dois dos momentos mais marcantes contarem com a presença de Jennifer Lawrence. Em uma cena, a atriz de 23 anos canta, em meio à arrumação da casa, “Live and let die”, de Paul e Linda McCartney. Em outra, ela enfrenta a amante do marido, uma Adams igualmente impressionante, com sucessivos decotes para lá de ousados, em um encontro inesperado no banheiro cujo desfecho é uma explosão de emoções.
— Às vezes, a vida real é de fato dramática. Essa intensidade às vezes é terrível, em outras, engraçada. Com David os personagens têm uma liberdade emocional tamanha que o que está no roteiro muitas vezes vira outra coisa nas filmagens. Ele vai jogando ideias no momento em que filma. No caso da cena em que canto, em uma leitura ele me disse que tinha me imaginado com luvas amarelas, arrumando a casa, e interpretando “Live and let die”. Faz todo o sentido para Rosalyn, que está com raiva, se sentido excluída, traída por tantos anos, se sentindo prisioneira de Irving e do casamento, pronta para de fato “deixar morrer” parte de sua vida. Foi o momento mais arriscado para mim no filme — diz a atriz.
Para o espectador brasileiro, é possível estabelecer paralelos com a realidade pós-mensalão, com a sequência de escutas, as festas como pano de fundo para acordos espúrios, os encontros com mafiosos e financiadores de campanha e até mesmo o complexo de culpa do protagonista — o Irving de Bale não acredita que a motivação do prefeito vivido por Renner seja ligada ao enriquecimento próprio.
— Esse é o personagem que dá ritmo de fato ao filme. É baseado em uma figura trágica, o prefeito da cidade de Camden, Ângelo Errichetti, do Partido Democrata, que colocou dinheiro no bolso, mas, ao mesmo tempo, foi um político de fato preocupado com sua comunidade, que amava sua cidade, interessado em servir ao público e em encontrar uma saída em um momento de grande dificuldade econômica para Nova Jersey. Pela primeira vez, ironicamente, o personagem de Bale vê um homem sinceramente preocupado com seus eleitores, seus vizinhos, seu casamento, sua família — afirma o diretor.
O fio da meada que transforma por fim a vida do quinteto principal imaginado por Russell se dá, justamente, quando os trapaceiros originais, vividos por Bale e Adams, questionam se os fins — enriquecimento ilícito, promoção no serviço público ou benefício econômico para milhares de trabalhadores-eleitores — podem justificar os meios. É a eles que o diretor dá, não por acaso, a premissa do julgamento ético. Ninguém é santo em “Trapaça” e, apesar da trilha sonora escolhida a dedo e do figurino e cabelos impecáveis — “Costumo dizer que os anos 1970 foram um Halloween que durou uma década”, brinca Bale —, o filme, justamente pela decisão de Russell de focar no comportamento humano, ultrapassa os limites do filme de época.
— Adoro os anos 1970 e, ao retratar aquele período, repasso minha própria juventude, a música que escutava, a família à minha volta, tanto no Bronx quanto em Nova Jersey. Escalei até alguns deles para papéis pequenos no filme, mas tudo isso são detalhes. O importante mesmo em “Trapaça” é ao que eu e estes cinco personagens nos dedicamos, o tempo todo: analisar a nós mesmos e aos que estão à nossa volta. Os personagens foram pensados como se fossem, eles também, atores. Todos nós, de certa maneira, agimos assim com nossos amantes, com nossos parceiros, com nossos colegas de trabalho, com nossos chefes. Este estudo constante do comportamento humano é o que mais valorizo em um ator — diz Russell, feliz com o capítulo final do que classifica, com propriedade, como sua “trilogia da reinvenção”.

Crítica: Em 'Trapaça', diretor David O. Russell faz tributo a Scorsese



Na escolha de seus temas, o cineasta americano David O. Russell tem construído, passo a passo, uma obra sólida e coerente.
Seus três filmes mais recentes trazem protagonistas à margem da sociedade que tentam se reinventar para contrariar a máxima do escritor F. Scott Fitzgerald: "Não há segundos atos nas vidas dos americanos".
Em "O Lutador" (2010), há um boxeador de origem humilde que precisa se afastar da família para ter a chance de se tornar campeão. Em "O Lado Bom da Vida" (2012), um rapaz bipolar e uma moça com fama de promíscua se unem para ganhar um concurso de dança.
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O prefeito Carmine Polito (Jeremy Renner) e Irving Rosenfeld (Christian Bale) em cena de 'Trapaça'
O prefeito Carmine Polito (Jeremy Renner) e Irving Rosenfeld (Christian Bale) em cena de 'Trapaça'

Agora, em "Trapaça", temos um casal de golpistas —Irving (Christian Bale) e Sidney (Amy Adams)— que, após ser detido pelo agente do FBI Richie DiMaso (Bradley Cooper), aceita participar de uma missão para desmascarar políticos corruptos e mafiosos.
Em termos de estilo de direção, Russell ainda não parece ter encontrado um. Cada filme seu parece ter um cineasta diferente atrás das câmeras. No caso de "Trapaça", ele se chama Martin Scorsese.
Há muito de "Os Bons Companheiros" (1990) na história de um casal de vigaristas em apuros, imprensado entre o FBI e a máfia.
Mas o tributo a Scorsese se dá sobretudo nas marcas de estilo, na alternância entre câmera lenta e acelerada, nas pausas narrativas para grande música pop, na mistura de ironia e sanguinolência.

Amy Adams, Bradley Cooper, Jeremy Renner, Christian Bale e Jennifer Lawrence estão em 'Trapaça'
Quando o filme começa a perder o ritmo, da metade para o final, é difícil conter o desejo de que a mesma boa história —passada nos anos 1970 e inspirada numa investigação real do governo americano— fosse filmada pelo Scorsese original.
Mas, para ser justo, é preciso reconhecer que Russell é um artesão acima da média hollywoodiana, competente tanto na caracterização dos personagens quanto na direção de atores.
Além dos três protagonistas, há belos desempenhos de Jennifer Lawrence, como a mulher desequilibrada de Irving, e de Jeremy Renner, como um político populista.
Por fim, e não menos importante, Russell se mostra à vontade nos diversos gêneros pelos quais o filme passeia, da farsa ao drama, do crime ao suspense. Não é pouca coisa.

Fonte:http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2014/01/1402026-critica-em-trapaca-diretor-david-o-russell-faz-tributo-a-scorsese.shtml

TRAPAÇA
DIREÇÃO David O. Russell
PRODUÇÃO EUA, 2013
ONDE pré-estreia no Cidade Jardim Cinemark, Eldorado Cinemark, Espaço Itaú - Pompeia, Kinoplex Itaim, Pátio Higienópolis Cinemark, Pátio Paulista Cinemark e outros do circuito; estreia em 7/2
CLASSIFICAÇÃO 14 anos
AVALIAÇÃO bom 






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