AGROTÓXICOS IMPACTAM O SANGUE E AFETAM DOADORES,DIZ DISSERTAÇÃO DEFENDIDA NA USP - ESTUDANDES DE AGRONOMIA PEDEM 'MENOS AMOR E MAIS AGROTÓXICO'?

Carol Garcia / SECOM / Fotos GOVBA Flickr CC

Agrotóxicos “são capazes de induzir alterações nas membranas celulares e no metabolismo dos componentes dos sangues dos doadores”

Agrotóxicos impactam o sangue e afetam doadores, diz dissertação defendida na USP


Estudo na Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto diz que glifosato pode promover alterações hepáticas e levar a danos ao fígado e anemia
Os agrotóxicos afetam também o sangue. Dos doadores aos receptores de transfusões. É o que diz uma dissertação de mestrado defendida este ano na Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto, e publicada nesta quinta-feira (10/08). 
Os dados obtidos pela pesquisadora Fortuyée Rosa Meyohas Neves indicam menor sobrevida de plaquetas e hemácias do sangue nas populações expostas a agrotóxicos. “E que há metabólitos de agrotóxicos no plasma de indivíduos, potenciais doadores de sangue, expostos aos agrotóxicos”, escreve ela já na introdução.
Fortuyée fez uma revisão de 50 trabalhos sobre o tema publicados na literatura científica. E listou quais os pesticidas mais utilizados por potenciais doadores de sangue da região serrana do Rio de Janeiro. Um dos objetivos é dar visibilidade à doação de sangue por moradores da zona rural.
Ela observa que o Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo. Entre 15 mil formulações no mundo para 400 diferentes agrotóxicos, conforme os dados da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), o país tem licenciadas mais do que a metade: 8 mil.
Segundo a dissertação, há hoje muitos estudos sobre potenciais danos das transfusões à saúde humana. Por isso a necessidade de saber se os doadores da área rural “seriam o veículo para contaminação de receptores pela transfusão”. Fortuyée não encontrou trabalhos específicos sobre esse tema no Brasil.
Outros estudos evidenciaram a contaminação do leite materno. Por exemplo, pesquisas desenvolvidas por Wanderlei Pignati na Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT). Por isso se especulava que haveria esse impacto também nos doadores de sangue.
Em relação ao glifosato, o agrotóxico mais consumido no mundo, a pesquisadora da USP escreve que “praticamente todos os seres humanos estão permanentemente expostos à sua ação”. E que formulações à base desse herbicida podem promover alterações hematológicas e hepáticas, “que podem ser associadas à formação de oxigênio reativo com danos ao fígado, anemia e outros”.
Em sua conclusão, a pesquisadora conta que, no grupo de pessoas mais expostas aos agrotóxicos na produção agrícola, os efeitos adversos “foram proporcionalmente mais intensos”, “e que há relação direta das alterações hematológicas e data da última exposição”.
Segundo ela, isso sugere “inaptidão temporária desses doadores provenientes da área rural com exposição a agrotóxicos”, da mesma forma que ocorre no caso de candidatos a doação de sangue que utilizam determinados medicamentos.
Os dados da literatura indicam que os agrotóxicos “são capazes de induzir alterações nas membranas celulares e no metabolismo dos componentes dos sangues dos doadores”. Consequência possível: redução da sobrevida das hemácias e plaquetas. E perda da qualidade do produto final: o sangue.
A pesquisadora encerra sua dissertação apontando a necessidade de aporte financeiro para o desenvolvimento de mais pesquisas sobre o assunto, que confirmem a ação dos agrotóxicos em hemácias e plaquetas.
Publicado originalmente no site De Olho nos Ruralistas

Estudantes de agronomia da UFG pedem 'menos amor e mais agrotóxico'

Pesticida mais consumido no mundo, glifosato é apontado por muitos pesquisadores como causa de câncer
Eles estudam agronomia. E pedem: “Menos amor e mais glifosato, por favor”, em referência ao pesticida mais consumido no mundo, comercializado pela Monsanto como Roundup. A foto com essa frase nas camisetas rodou as redes sociais após ter sido publicada no site da Emater (Agência de Assistência Técnica, Extensão Rural e Produção Agropecuária) goiana. É produzida pela associação atlética dos estudantes de agronomia da UFG (Universidade Federal de Goiás).
Também conhecido como mata-mato, o glifosato – ingrediente ativo do Roundup – “provavelmente” causa câncer, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde). Outras pesquisas realizadas dizem o contrário. Em junho, o Estado da Califórnia, nos Estados Unidos, informou que listará o produto como causador de câncer. A ECHA (Agência Química Europeia, na sigla em inglês) o liberou.
Sua utilização é criticada por organizações como o Greenpeace, WWF, Oxfam e Slow Food. Mais de 1,3 milhão de pessoas assinaram uma petição para seu banimento na União Europeia. A documentarista francesa Marie-Monique Robin, autora de filme sobre a Monsanto, define o glifosato como "maior escândalo sanitário da história".
No Brasil, o uso do pesticida é criticado por pesquisadores como Wanderlei Pignati, da UFMT (Universidade Federal do Mato Grosso), e Raquel Rigotto, da UFC (Universidade Federal do Ceará). A Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) também fazem alertas frequentes sobre esse e outros venenos.
Reprodução Twitter @ematergo

Estudantes 
Estudantes faturam com camiseta
Os estudantes brasileiros conseguiram emplacar a foto em uma notícia sobre o consumo de soja por humanos, publicada pela Emater (e reproduzida, com outra imagem, pelo site Agrolink), sobre o evento Agro Centro-Oeste Familiar 2017, realizado em Goiânia, em junho.
O link foi retirado do ar, mas o site Ambiente do Meio conseguiu registrar a imagem. Que ainda pode ser encontrada, também, no Twitter da própria Emater, em post do dia 12 de junho – conforme o De Olho nos Ruralistas constatou, um mês depois, nesta segunda-feira (10/07).
feira (10/07).
Reprodução / Ambiente do Meio

Nota publicada no site da Emater-GO ilustrada com foto de estudantes da UFG com a camiseta
Instagram da associação atlética dos estudantes da Escola de Agronomia da UFG divulgou em março a camiseta “por menos amor e mais glifosato”. Apresentada naquele mês como uma novidade, ela é vendida por R$ 35.
Diante da repercussão da foto, a Emater emitiu nota de esclarecimento dizendo que nem ela, nem a UFG, nem a organização da Agro Centro-Oeste Familiar têm qualquer ligação com a produção “ou incentivo ao uso” da camiseta.
A agência diz respeitar o direito à liberdade de expressão, garantido pela Constituição, e que incentiva “toda e qualquer prática sustentável de produção agropecuária apoiada em procedimentos seguros e ambientalmente corretos, afiançados pela legislação vigente”. 
Publicado originalmente no site De Olho Nos Ruralistas
Fonte:http://operamundi.uol.com.br/conteudo/samuel/47548/estudantes+de+agronomia+da+ufg+pedem+menos+amor+e+mais+agrotoxico.shtml

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