O QUE MADRE TEREZA DE CALCUTÁ NÃO TINHA DE SANTA ? - "MADRE TEREZA PODERIA SER PRESIDENTE DE EMPRESA"

Madre Teresa apresenta documentos de uma nova casa a uma moradora de Bombai, na Índia, em 1994 (Foto: Savita Kirloskar)

Madre Teresa apresenta documentos de uma nova casa a uma moradora de Bombai, na Índia, em 1994 (Foto: Savita Kirloskar)

O que Madre Teresa de Calcutá não tinha de santa?

Sua biografia não é tão limpa como se pensa

A freira de família albanesa Agnes Gonxha (1910-1997), conhecida como Madre Teresa de Calcutá, que atendia doentes terminais em Calcutá, na Índia, ganhou o Nobel da Paz em 1979 e foi canonizada pelo Vaticano no dia 4 setembro de 2016. Mas sua biografia não é tão limpa como se pensa. Alguns dos seus trechos podem incomodar seus admiradores. São eles (as fontes estão nos links):
Negligência com doentes terminais. Dentro da instituição Missionárias da Caridade, as pessoas ficavam deitadas em colchões no chão o tempo todo, sem acesso a antibióticos e analgésicos. Médicos não eram autorizados a examinar os pacientes para fazer um diagnóstico. Os doentes não podiam ser levados a um hospital para tratamento adequado. Seringas eram usadas em vários doentes e lavadas na torneira.
Sadismo. O atendimento ruim não era uma consequência da falta de dinheiro. A organização de Madre Teresa acumulou centenas de milhões de dólares e abriu unidades em mais de 100 países. A questão é que ela nutria uma fascinação pelo sofrimento dos mais humildes. “Eu acho muito bonito para o pobre aceitar o seu destino, dividir isso com a paixão de Cristo. Eu acho que o mundo tem sido muito ajudado pelo sofrimento das pessoas pobres”, disse ela em uma coletiva de imprensa. Em outro momento, ela diz para um paciente terminal: “você está sofrendo como Cristo na cruz, Então Jesus deve estar te beijando”.
Amizades tenebrosas. Madre Teresa visitou a esposa de Jean Claude Duvalier, o Baby Doc, ditador do Haiti. Sobre o encontro, ela disse que nunca tinha visto pobres tão familiares com o seu chefe de Estado. “Foi uma linda lição para mim”, disse. Estima-se que Baby Doc e seu pai, Papa Doc, tenham desviado 100 milhões de dólares em obras sociais no Haiti.
Fonte:https://veja.abril.com.br/blog/duvidas-universais/o-que-madre-teresa-de-calcuta-nao-tinha-de-santa/

“Madre Teresa poderia ser presidente de empresa”

Em "Madre Teresa CEO: Princípios Inesperados de Liderança Prática", a canadense Ruma Bose conta como a missionária construiu um império da filantropia

Pertencente a uma abastada família indiana, a canadense Ruma Bose, 37 anos, sempre teve fixação por Madre Teresa de Calcutá. Quando criança, as histórias que gostava de ouvir não eram as de contos de fadas. Ruma preferia que sua mãe lhe contasse os feitos da freira albanesa que, com sua extensa rede de filantropia, havia conseguido mudar a realidade de milhares de pessoas (assista à entrevista de Bose ao site de VEJA).
Ao completar 19 anos, Ruma decidiu passar um tempo na Índia trabalhando como voluntária para as Missionárias da Caridade de Calcutá, organização fundada por Madre Teresa. Não esperava que, além de lições de vida, também aprendesse a gerir uma empresa. “Madre Teresa tinha pulso firme, era metódica, organizada, uma líder nata. Poderia ser presidente de qualquer companhia do mundo”, conta a autora.
A viagem aconteceu em 1992, mas só agora, 18 anos depois, Ruma decidiu expô-la ao mundo. O mercado editorial americano recebeu seu livro “Madre Teresa CEO: Princípios Inesperados de Liderança Prática“* (tradução livre), que traz lições da beata aos empresários. “Eu sentia que tinha a missão de mostrar para as pessoas a história de uma das organizações de maior sucesso do mundo. Todos só conheciam o lado social de Madre Teresa. Precisavam conhecer o lado empresária”, diz Ruma. (Clique nas palavras-chave e conheça os princípios de liderança)
Números que impressionam – Quando se refere à organização filantrópica da missionária, Ruma não exagera. São mais de 600 missões em 100 países do mundo, que empregam mais de um milhão de pessoas, além da montanha de recursos financeiros arrecadados nos 62 anos de existência do projeto. “Madre Teresa era uma máquina de conseguir fundos. Era uma ótima relações públicas”, afirma.
Apesar dos números chamativos, Ruma afirma que a missionária – beatificada em 2003 pelo Papa João Paulo II – não tinha apreço pelos holofotes, mas sabia usar seu carisma para atrair doadores. Segundo a autora, Madre Teresa tinha um pensamento objetivo e rígido; também no momento de aceitar doações. No entanto, ela se negava a aceitar dinheiro quando o doador queria publicidade em troca. “Quando estava lá, vi a organização recusar uma soma milionária de uma multinacional. Os empresários queriam poder divulgar ao mundo que estavam ajudando Madre Teresa. Ela se negou”, relembra.
Para Ruma, o que diferencia a gestão de Madre Teresa de qualquer outra organização é a humildade. O fato de liderar uma rede de religiosas e centenas de voluntários em todo o planeta não fazia da missionária uma figura inacessível e ausente. “Ela atendia com atenção absolutamente todas as pessoas que queriam falar com ela, era querida por todos e conseguiu transformar seu projeto em algo gigantesco e perene, mesmo após sua morte. Poucos líderes conseguiram semelhante feito”, afirma a autora.
Uma visão contrária
Em 2003, o ensaísta britânico Christopher Hitchens desafiou o consenso em torno de Madre Teresa ao dizer que ela era “uma fanática, uma fundamentalista e uma fraude”.
O trecho mais contundente do artigo, publicado pela revista eletrônica Slate, é o seguinte:
“Madre Teresa não era uma amiga dos pobres. Ela era amiga da pobreza. Disse que o sofrimento era um dom divino. Passou a vida combatendo a única cura conhecida para a pobreza, que é dar às mulheres o controle de suas próprias vidas, e emancipá-las da reprodução ao estilo compulsório dos rebanhos. Ela também era amiga dos piores entre os ricos, tendo aceitado dinheiro sujo da atróz familia Duvalier, do Haiti (cujo governo ela elogiou) e de Charles Keating, da Lincoln Savings and Loan. Para onde foi esse dinheiro, e todas as outras doações que ela recebeu? Seu hospital primitivo em Calcutá estava tão depauperado no momento de sua morte quanto sempre estivera – ela mesma preferiu clínicas californianas quando ficou doente – e sua ordem religiosa sempre se recusou a tornar pública qualquer auditoria. Mas temos sua própria afirmação de que ela abriu 500 conventos em mais de cem países, todos com o nome de sua ordem. Desculpe-me, mas isso é modéstia e humildade?”
*O livro “Madre Teresa CEO: Princípios Inesperados de Liderança Prática” ainda não tem previsão de lançamento em português. Nos Estados Unidos, seu lançamento está previsto para maio de 2011. Ruma Bose participou, como palestrante, do Fórum Global de Sustentabilidade do Festival SWU, em Itu (SP)
Fonte:https://veja.abril.com.br/economia/madre-teresa-poderia-ser-presidente-de-empresa/

Quem foi Madre Teresa de Calcutá

Beata foi professora e deu abrigo a doentes recusados até em hospitais.
Críticos questionam milagres e ligam religiosa a 'cultura de sofrimento'.


Conhecida em vida como "a santa das sarjetas" e canonizada em setembro de 2016, Madre Teresa de Calcutá nasceu em 26 de agosto de 1910 em uma família albanesa em Skopje, capital da atual república da Macedônia – que na época pertencia à Albânia –, com o nome de batismo Gonxhe Agnes Bojaxhiu.

Ela entrou em 1928 para a ordem religiosa Irmãs de Nossa Senhora de Loreto, que tem sede na Irlanda, e passou a usar o nome Teresa em homenagem a Santa Teresa de Lisieux.
Enviada a Calcutá, na Índia, foi professora durante muitos anos em uma escola para meninas de classe alta, antes de decidir servir a Deus através dos pobres. No início de 1948, se mudou para os bairros pobres de Calcutá, onde suas ex-alunas se tornaram, a seu lado, as primeiras Missionárias da Caridade.
Em 1952, ao observar uma mulher agonizante, abandonada na rua e com os pés atacados por ratos, ela sentiu uma profunda comoção e decidiu assumir uma nova tarefa: ajudar os mais pobres entre os pobres. Depois de procurar com insistência as autoridades da cidade, conseguiu a concessão de um antigo edifício para dar abrigo às pessoas que sofriam de tuberculose, desinteria e tétano, as quais nem os hospitais queriam atender.
Dezenas de milhares de necessitados passaram pelo lugar. Muitos encontraram uma morte digna, com respeito às suas próprias religiões, e outros se recuperaram graças aos cuidados das freiras. Pelo seu trabalho, ela foi laureada com o Prêmio Nobel da Paz em 1979.
Foto de arquivo de novembro de 1978 mostra Madre Teresa de Calcutá e o Papa João Paulo II no Vaticano (Foto: STR / AFP)Foto de arquivo de novembro de 1978 mostra Madre
Teresa de Calcutá e o Papa João Paulo II no Vaticano
(Foto: STR / AFP)
Milagres
A igreja abriu caminho no ano passado para a canonização da beata após declarar como milagre a recuperação do brasileiro Marcilio Haddad Andrino, que tinha múltiplos pontos de inflamação no cérebro.
Quando Andrino sofreu em 2008 os abscessos cerebrais, dos quais médicos disseram que ele não iria se recuperar, sua família rezou para Madre Teresa. Ele conta que seu estado de saúde piorou ao ponto de ter sofrido para conseguir andar ao altar durante seu casamento, em setembro de 2008. Em dezembro foi levado inconsciente para hospital.
O brasileiro estava com uma cirurgia cerebral marcada, mas acordou sem dores de cabeça pouco antes da operação e o médico afirmou que uma intervenção médica não seria mais necessária (veja no vídeo abaixo a história de Andrino em reportagem do Fantástico).
Em 2002, o Vaticano já havia reconhecido um primeiro milagre atribuído à intervenção da freira: a cura de uma mulher de 30 anos, Monika Besra, que sofria de um tumor abdominal. Ela se viu livre da doença depois que as irmãs da congregação a presentearam com uma "medalha milagrosa" da Virgem, que antes havia sido usada pela beata aos 87 anos.
Madre Teresa foi, então, beatificada por João Paulo II em 19 de outubro de 2003, em Roma, durante cerimônia que teve a presença de 300 mil fiéis.
Críticas
Mas nem todo mundo comemorou a transformação da beata em santa. Críticos questionam a comprovação dos milagres admitidos pela igreja e consideram que sua canonização é símbolo de mais um "triunfo da fé religiosa sobre a razão e a ciência".
O autor britânico Christopher Hitchens, que morreu em 2011, era um dos principais. Ele descreveu Madre Teresa como "uma fundamentalista religiosa, uma agente política, uma pregadora primitiva e uma cúmplice dos poderes seculares mundanos".
Em um livro famoso lançado em 1995, "A posição missionária: Madre Teresa em teoria e prática, Hitchens critica o que diz ser a "cultura de sofrimento" da freira e afirma que ela criou um imaginário de "buraco do inferno" da cidade que a acolheu, além de ter se tornado "amiga de ditadores". O autor também foi responsável por um documentário chamado "O anjo do inferno", em que explora os argumentos.
Em 2003, o físico de Calcutá Aroup Chatterjee publicou uma nova crítica, depois de ter feito pelo menos 100 entrevistas com pessoas envolvidas com a congregação criada por Madre Teresa. Ele descreveu o que disse ser uma "espantosa falta de higiene" nos centros de saúde administrados pelas Missionárias de Caridade e descreveu os locais em que o grupo cuidava de doentes como "confusos e mal organizados".
Missionárias da Caridade passam por um cartaz de Madre Teresa em Calcutá, Índia, neste sábado (3) (Foto: Reuters/Rupak De Chowdhuri)Missionárias da Caridade passam por um cartaz de Madre Teresa em Calcutá, Índia, neste sábado (3) (Foto: Reuters/Rupak De Chowdhuri)
Legado
Madre Teresa de Calcutá morreu em 1997, aos 97 anos. Seu enterro em Calcutá, em 5 de setembro de 1997, foi um acontecimento nacional na Índia e milhões de pobres acompanharam seu corpo pelas ruas da cidade.
Ao canonizá-la, o papa Francisco afirmou que a figura da madre será a santa de "todos os voluntariados" e pediu que ela fosse considerada o "modelo de santidade".
"Sua missão nas periferias das cidades e nas periferias existenciais permanece até hoje como testemunho eloquente da proximidade de Deus aos mais pobres entre os pobres."
O pontífice lembrou ainda que a beata fez "sentir sua voz aos poderosos da terra para que reconhecessem suas culpas diante dos crimes da pobreza criado por eles mesmos". O Papa conheceu Teresa pessoalmente, por ocasião de um sínodo de bispos em 1994, em Roma.


O Papa Francisco declarou santa neste domingo (4) a madre Teresa de Calcutá, em uma missa de canonização celebrada na praça de São Pedro, no Vaticano, frente a 100 mil fiéis. "Declaramos a beata Teresa de Calcutá santa e a inscrevemos entre os santos, decretando que seja venerada como tal por toda a Igreja", afirmou Francisco.
Conhecida em vida como  "a santa das sarjetas", Madre Teresa de Calcutá foi transformada em santa pela Igreja Católica 19 anos após sua morte. Vencedora do Prêmio Nobel da Paz, ela foi uma das mulheres mais influentes dos 2 mil anos de história da religião, aclamada por seu trabalho com os mais pobres nas favelas da cidade indiana de Calcutá.
A missa para o canonização começou às 10h18 deste domingo (horário local, 5h18 em Brasília) com o canto do hino do Jubileu da Misericórdia. Em seguida, Francisco entrou na praça de São Pedro na habitual procissão. Participam da cerimônia 70 cardeais, 400 bispos e 1,7 mil sacerdotes. O Papa conheceu Teresa pessoalmente, por ocasião de um sínodo de bispos em 1994, em Roma.
Praça de São Pedro, no Vaticano, durante a cerimônia de canonização de Madre Teresa de Calcutá (Foto: Stefano Rellandini/Reuters)Praça de São Pedro, no Vaticano, durante a cerimônia de canonização de Madre Teresa de Calcutá (Foto: Stefano Rellandini/Reuters)
Na homilia da cerimônia de canonização, Francisco elogiou seu trabalho "em defesa da vida humana", garantindo que ela fez "sentir sua voz aos poderosos da terra para que reconhecessem suas culpas diante dos crimes da pobreza criado por eles mesmos".
Disse que Madre Teresa ao longo de sua vida esteve "à disposição de todos por meio da recepção e a defesa da vida humana". Elogiou sua luta contra o aborto e recordou que sempre dizia que "quem ainda não nasceu é o mais frágil".
E lembrou como "se inclinou sobre as pessoas fracas, que morrem abandonadas à beira das ruas, reconhecendo a dignidade que Deus lhe deu".
"Sua missão nas periferias das cidades e nas periferias existenciais permanece até hoje como testemunho eloquente da proximidade de Deus aos mais pobres entre os pobres", afirmou.
Francisco explicou que a figura de Madre Teresa será a santa de "todos os voluntariados" e pediu que ela fosse considerada o "modelo de santidade".
Papa Francisco canoniza Madre Teresa de Calcutá (Foto: Andreas Solaro/AFP)Papa Francisco canoniza Madre Teresa de Calcutá (Foto: Andreas Solaro/AFP)
O pontífice afirmou a chamará "com dificuldade de Santa Teresa" porque "Sua Santidade foi tão próxima a nós, tão suave e espontânea que vai continuar a ser chamada de mãe, Madre Teresa".

Missionárias da Caridade
Embora criticada durante a vida e após a morte, Madre Teresa é reverenciada pelos católicos como um modelo de compaixão que levou alívio aos doentes e moribundos, abrindo filiais de suas Missionárias da Caridade (M.C.) em todo o mundo.
As Missionárias da Caridade tiveram origem em uma pequena congregação, que se transformou em uma rede que hoje conta com 4.500 religiosas trabalhando em cerca de 700 casas dedicadas a ajudar os mais desfavorecidos em mais de 130 países.
Madre Teresa de Calcutá morreu em 1997, aos 97 anos. Ela havia sido beatificada pelo Papa João Paulo 2º em 2003, o último passo antes da canonização.
Imagem de Madre Teresa de Calcutá na Basílica de São Pedro, no Vaticano, para cerimônia de canonização (Foto: Stefano Rellandini/Reuters)Imagem de Madre Teresa de Calcutá na Basílica de São Pedro, no Vaticano, para cerimônia de canonização (Foto: Stefano Rellandini/Reuters)
Milagre com brasileiro
A igreja abriu caminho no ano passado para a canonização de Madre Teresa após declarar como milagre a recuperação do brasileiro Marcilio Haddad Andrino, que tinha múltiplos pontos de inflamação no cérebro.
Quando Andrino sofreu em 2008 os abscessos cerebrais, dos quais médicos disseram que ele não iria se recuperar, sua família rezou para Madre Teresa.
Ele disse que seu estado de saúde piorou ao ponto de ter sofrido para conseguir andar ao altar durante seu casamento, em setembro de 2008. Em dezembro foi levado inconsciente para hospital.
Freiras da ordem de Madre Teresa fazem vigília nesta sexta feira à espera da canonização no Vaticano (Foto: Gregorio Borgia/AP)Freiras da ordem de Madre Teresa fazem vigília à espera da canonização (Foto: Gregorio Borgia/AP)
Andrino estava com uma cirurgia cerebral marcada, mas acordou sem dores de cabeça pouco antes da operação e o médico afirmou que uma intervenção médica não seria mais necessária.
"Consegui passar o Natal com minha família e seis meses depois voltei ao trabalho sem problemas", disse Andrino, que posteriormente teve dois filhos.
Andrino, que tem 43 anos e mora no Rio de Janeiro, disse nesta sexta-feira (2), durante entrevista coletiva no Vaticano, que se sente muito grato, mas que pensa que qualquer pessoa poderia ter sido igualmente beneficiada pela intervenção.
"Se não tivesse acontecido comigo, talvez fosse com outra pessoa amanhã. Ela não diferenciava. Não me sinto especial", disse Andrino, que participa da cerimônia deste domingo com sua esposa, Fernanda (veja no vídeo abaixo a história do brasileiro em reportagem do Fantástico).
História
Nascida em 26 de agosto de 1910 em uma família albanesa em Skopje, capital da atual república da Macedônia – que na época pertencia à Albânia –, Gonxhe Agnes Bojaxhiu entrou em 1928 para a ordem religiosa Irmãs de Nossa Senhora de Loreto, que tem sede na Irlanda, e passou a usar o nome Teresa em homenagem a Santa Teresa de Lisieux.
Enviada a Calcutá, na Índia, foi professora durante muitos anos em uma escola para meninas de classe alta, antes de receber o "chamado dos chamados" - a vocação de servir a Deus através dos pobres. No início de 1948, se mudou para os bairros pobres de Calcutá, onde suas ex-alunas se tornaram, a seu lado, as primeiras Missionárias da Caridade.
Em 1952, ao observar uma mulher agonizante, abandonada na rua e com os pés atacados por ratos, ela sentiu uma profunda comoção e decidiu assumir uma nova tarefa: ajudar os mais pobres entre os pobres.
Foto de arquivo de Madre Teresa de Calcutá, de 15 de maio de 1997 (Foto: AFP Photo)Foto de arquivo de Madre Teresa de Calcutá, tirada em 15 de maio de 1997 (Foto: AFP Photo)
Depois de procurar com insistência as autoridades da cidade, conseguiu a concessão de um antigo edifício para dar abrigo às pessoas que sofriam de tuberculose, desinteria e tétano, pessoas que nem os hospitais queriam atender.
Dezenas de milhares de necessitados passaram pelo "hospício" e muitos encontraram uma morte digna, sempre em respeito à sua própria religião, e outros se recuperaram graças aos cuidados das freiras. Ela foi agraciada com o Prêmio Nobel da Paz em 1979.
Seu enterro em Calcutá, em 5 de setembro de 1997, foi um acontecimento nacional na Índia e milhões de pobres acompanharam seu corpo pelas ruas da cidade. O funeral contou com a presença de chefes de Estado e governantes de todo o mundo.
Beatificação
Em 2002, o Vaticano reconheceu um primeiro milagre atribuído à intervenção da madre Teresa, a cura de uma mulher de 30 anos, Monika Besra, que sofria de um tumor abdominal.
Ela se curou depois que as irmãs da congregação a presentearam com uma "medalha milagrosa" da Virgem, que antes havia sido usada pela beata aos 87 anos.
Madre Teresa foi beatificada por João Paulo II em 19 de outubro de 2003, em Roma, durante cerimônia que teve a presença de 300 mil fiéis.
Indiana segura cartaz com a imagem de Madre Teresa de Calcutá (Foto: Rupak De Chowdhuri/AFP)Indiana segura cartaz com a imagem de Madre Teresa de Calcutá (Foto: Rupak De Chowdhuri/AFP)
Caminho para se tornar santo
São três as etapas pelas quais deve passar o candidato a santo – confirmação das "virtudes heroicas", beatificação, e canonização.
O primeiro passo para o processo de beatificação geralmente é dado pelo bispo da diocese à qual pertence o candidato e dificilmente antes dos cinco anos posteriores à sua morte.
Durante a investigação, primeiro se demonstra que o candidato tinha "fama de santidade" e que merece ser proposto à canonização.
Os teólogos consultores, os cardeais e até o Papa têm o direito de opinar nesta etapa do processo, depois da qual se pode prever a beatificação, sempre e quando se tenha demonstrado pelo menos a existência de um milagre que possa ser atribuído ao candidato.
Demonstrar a validade do milagre, no entanto, não é tarefa fácil. A Congregação para as Causas dos Santos se vale da assessoria de uma equipe de 70 médicos e vários especialistas, assim como dos estudos clínicos, aos quais é submetido o indivíduo supostamente curado por um milagre.
Uma primeira aproximação do fenômeno denominado "milagre" é que a cura tenha acontecido de forma instantânea, perfeita, duradoura e inexplicável cientificamente, como a de uma doença incurável ou muito difícil de se tratar.

Fiel ergue estátua da Madre Teresa do lado de fora de uma filial das Missionárias da Caridade em Calcutá, na Índia, enquanto ela era canonizada neste domingo (4) em cerimônia no Vaticano (Foto: REUTERS/Rupak De Chowdhuri)Fiel ergue estátua da Madre Teresa do lado de fora de uma filial das Missionárias da Caridade em Calcutá, na Índia, enquanto ela era canonizada neste domingo (4) em cerimônia no Vaticano (Foto: REUTERS/Rupak De Chowdhuri)

Por que muitos criticam canonização de Madre Teresa de Calcutá

Madre Teresa recebeu Nobel da Paz em 1979 e agora, 19 anos após sua morte, é oficializada como santa pelo Vaticano.

Soutik BiswasIndia correspondent

Na manhã deste domingo, quando Madre Teresa de Calcutá - a freira católica que ficou famosa por ajudar os pobres na cidade indiana - foi declarada santa pelo papa Francisco diante de milhares de pessoas no Vaticano, nem todo mundo comemorou o seu sucesso.
Seus críticos ainda questionam a comprovação dos "milagres" admitidos pela Igreja e consideram que sua canonização é símbolo de mais um "triunfo da fé religiosa sobre a razão e a ciência".
A freira, que também ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 1979, faleceu aos 87 anos em 1997. Ela ficou conhecida por ter construído hospitais, casas de repouso, cozinhas, escolas, colônias de leprosos e orfanatos. Era chamada de "Santa das Sarjetas" por seu trabalho nas regiões mais pobres de Calcutá.
A congregação Missionárias da Caridade, fundada por Madre Teresa, reúne atualmente mais de 3 mil religiosas no mundo inteiro.
Mas, apesar de ter uma legião de fiéis, ela também tem uma considerável legião de detratores.
O falecido autor britânico Christopher Hitchens era um dos principais. Ele descreveu Madre Teresa como "uma fundamentalista religiosa, uma agente política, uma pregadora primitiva e uma cúmplice dos poderes seculares mundanos".
Em um livro famoso lançado em 1995, A Posição Missionária: Madre Teresa em teoria e prática, Hitchens critica o que diz ser a "cultura de sofrimento" da freira e afirma que ela criou um imaginário de "buraco do inferno" da cidade que a acolheu, além de ter se tornado "amiga de ditadores".
O autor também foi responsável por um documentário chamado O Anjo do Inferno, em que explora estas críticas.
Em 2003, o físico baseado em Londres Aroup Chatterjee publicou uma nova crítica a Madre Teresa depois de ter feito pelo menos 100 entrevistas com pessoas envolvidas com a congregação criada por ela.
Ele descreveu o que disse ser uma "espantosa falta de higiene" nos centros de saúde administrados pelas Missionárias de Caridade - onde se reutilizava agulhas, por exemplo - e descreveu os locais em que o grupo cuidava de doentes como "confusos e mal organizados".
Questionando milagres
O cubano Hemley Gonzalez também se tornou um crítico depois que saiu de Miami, onde vivia, para trabalhar como voluntário em uma das casas de Madre Teresa em Calcutá por dois meses, em 2008.
Ele disse ter ficado "chocado ao descobrir a maneira terrivelmente negligente como esta missão de caridade opera e as contradições entre a realidade e a forma como ela é percebida pelo público."
Gonzalez, que hoje tem sua própria organização de caridade humanista e sem ligação com a Igreja Católica, critica também o que diz serem pensamentos retrógrados que seriam reforçados na congregação de Madre Teresa.
"Ser contra o controle de natalidade e o planejamento familiar, a modernização de equipamentos e uma miríade de iniciativas que solucionam problemas causados pela pobreza são coisas que fazem Madre Teresa não ser 'amiga dos pobres', como dizem, mas uma pessoa que promove a pobreza", afirmou.
Foto de arquivo de novembro de 1978 mostra Madre Teresa de Calcutá e o Papa João Paulo II no Vaticano (Foto: STR / AFP)Foto de arquivo de novembro de 1978 mostra Madre Teresa de Calcutá e o Papa João Paulo II no Vaticano (Foto: STR / AFP)
Recentemente, o racionalista indiano Sanal Edamaruku, também levantou perguntas sobre os milagres que levaram Madre Teresa à canonização na Igreja Católica.
Para ser considerado santo ou santa pelo Vaticano, uma pessoa precisa ter alguns "milagres" atribuídos a ela, após sua morte, por conta de orações que foram feitas em seu nome.
Quando situações como essa acontecem, elas são "verificadas" por meio de provas exigidas pela Igreja antes de serem aceitas como milagres. Normalmente, os casos são de curas ou recuperações de doenças que acontecem sem aparente explicação médica.
Cinco anos depois da morte de Madre Teresa, o papa João Paulo 2º aceitou o que seria seu primeiro milagre - a cura de uma mulher de uma tribo de Bangladesh, Monica Besra, que tinha um tumor abdominal - e determinou que isso teria acontecido devido a uma intervenção sobrenatural.
Isso abriu caminho para a beatificação da madre em 2003. Em 2015, o papa Francisco reconheceu um segundo milagre, que envolveu a cura de um brasileiro com tumores no cérebro em 2008.
Edamaruku questionou o primeiro milagre, perguntando como uma mulher pode ser curada por uma foto de uma freira colocada sobre seu estômago quando existem provas de que ela recebeu tratamento médico contra a doença.
Hoje, diz ele, "a maioria das pessoas não quer mais negar os feitos de Madre Teresa porque ela tem uma imagem de alguém que sempre trabalhou para os pobres", afirma.
"Se você duvida de Madre Teresa, você é visto como 'anti-pobre'. Eu não tenho nada contra ela, mas dizer que alguém faz milagres não é científico."
'Barato'
O físico Aroup Chatterjee foi ainda mais incisivo ao dizer que os "chamados milagres são baratos e infantis demais até para questionar".
Missionárias da Caridade passam por um cartaz de Madre Teresa em Calcutá, Índia, neste sábado (3) (Foto: Reuters/Rupak De Chowdhuri)Missionárias da Caridade passam por um cartaz de Madre Teresa em Calcutá, Índia, neste sábado (3) (Foto: Reuters/Rupak De Chowdhuri)
A iniciativa mais recente veio de um grupo de acadêmicos e trabalhadores sociais indianos, que chegaram a pedir ao Ministro das Relações Exteriores da Índia, Sushma Swaraj, que reconsiderasse sua decisão de ir ao Vaticano para prestigiar a cerimônia de canonização de Madre Teresa.
"Causa espanto que o ministro de um país cuja constituição pede aos seus cidadãos para ter um pensamento científico aprove uma canonização baseada em 'milagres'", diz o pedido oficial.
No entanto, alguns contestam esse argumento alegando que "provas científicas e fé são coisas diferentes".
"Muitas perguntas ainda estão em aberto. Muitos de nós temos uma noção bem limitada de história científica e de filosofia da ciência", afirmou o sociólogo Shiv Visvanathan.
"A batalha do cristianismo com a ciência tem um longo histórico. E, muitas vezes, racionalistas também exageram exigindo provas científicas o tempo todo", finaliza.
Fonte:http://g1.globo.com/mundo/noticia/2016/09/por-que-muitos-criticam-canonizacao-de-madre-teresa-de-calcuta.html

Origem de Madre Teresa é fonte de disputa entre albaneses e macedônios

Morta há 19 anos, missionária será transformada santa neste domingo (4).
Madre Teresa é uma das figuras católicas mais conhecidas no mundo.


Quando o papa Francisco canonizar a Madre Teresa no domingo (4), albaneses e macedônios vão celebrar a nova santa, disputada pelos dois países, em uma discussão tão complexa quanto a História dos Bálcãs.
Por trás dessa batalha, subjazem as rivalidades étnicas e de identidade nacional entre albaneses e eslavos na região onde nasceu a religiosa dos pobres.
País de maioria muçulmana, a Albânia batizou seu aeroporto, um dos principais hospitais e uma praça em Tirana com o nome da freira. Uma escultura da religiosa domina - do lado albanês - o lago Ohrid, que separa ambos os países.
Na Macedônia, país de maioria ortodoxa, onde há uma forte minoria de albaneses, uma autoestrada e um hospital levam seu nome. Já a casa onde a missionária nasceu foi transformada em museu. A instituição recebe a visita de cerca de 500 pessoas por dia.
Kadare entra no debate
De nome secular - Agnes Gonxha Bojaxhiu -, madre Teresa nasceu em 26 de agosto de 1910, em Uskub (atual Skopje), uma cidade multicultural do Império Otomano. Skopje é, hoje, a capital da Macedônia, mas pertencia à Albânia. Sua mãe era uma albanesa, de uma família de Kosovo.
Já a origem de seu pai até hoje não está tão clara. Ele faleceu quando a religiosa ainda era criança. Os albaneses alegam que ele seria um dos seus, enquanto na Macedônia há os que sustentem a tese de que pertencia aos "valacos", um povo eslavo ortodoxo dos Bálcãs.
Freiras da ordem de Madre Teresa fazem vigília nesta sexta feira à espera da canonização no Vaticano (Foto: Gregorio Borgia/AP)Freiras da ordem de Madre Teresa fazem vigília nesta sexta feira à espera da canonização no Vaticano (Foto: Gregorio Borgia/AP)
"A madre Teresa nasceu em Skopje, mas nunca é designada como macedônia", disse o historiador albanês Moikom Zeqo.
Ela "sempre falou de suas origens albanesas e de sua missão universal", completou o especialista. Os macedônios preferem fazer referência ao lugar onde ela nasceu, Skopje.
"Sabemos que é uma das nossas", defendeu a diretora da Comissão Nacional de Comunidades Religiosas da Macedônia, Valentina Bozinovska.
Madre Teresa deixou sua terra natal no final da década de 1920 para seguir o noviciado na Irlanda. Depois, partiu para a Índia, em 1929. Desde então, a Segunda Guerra Mundial, a desintegração da Iugoslávia e os conflitos da década de 1990 convulsionaram a região dos Bálcãs.
Exposição fala sobre a vida de Madre Teresa de Calcutá (Foto: Divulgação)Madre Teresa de
Calcutá (Foto: Divulgação)
Sua mãe e sua irmã deixaram Skopje para viver em Tirana na década de 1930, mas a religiosa foi proibida de entrar no país durante a ditadura comunista de Enver Hoxha. Pôde voltar apenas em 1989, quatro anos após a morte do ditador e um ano antes da queda do comunismo, para visitar o túmulo de seus entes queridos.
"A pessoa célebre pertence a toda a humanidade, mas também tem raízes, uma nação à qual estão vinculados por laços de sangue", disse à AFP o escritor albanês Ismail Kadare.
Uma cidadã indianaPara Maja Vaneska, uma macedônia de 28 anos, "ela nasceu aqui, foi criada aqui, viveu aqui, brincou com os amigos no lugar onde estamos. É um fato que é de Skopje".
Nesse país, estão previstas várias atividades para celebrar sua beatificação, entre elas uma missa em 11 de setembro, com um enviado do papa. Além disso, o Banco Central vai cunhar uma moeda em sua homenagem.
Antes de sua morte em 1997, a religiosa visitou o país quatro vezes. Para Valentina Bozinovska, a religiosa é um símbolo da "unificação cultural", em um país em que pelo menos 25% da população é albanesa.
Nas palavras da própria madre: "por sangue, sou albanesa; por minha nacionalidade, sou indiana. Por minha fé, sou uma religiosa católica. Em relação ao que foi meu chamado, eu pertenço a este mundo. E, no que diz respeito ao meu coração, pertenço inteira ao coração de Jesus", escreveu.
Quando a Albânia reivindicou seus restos mortais, Nova Délhi respondeu apenas que a religiosa "descansava em seu país, em sua terra".
A polêmica desagrada à diretora do Memorial de Skopje, Renata Kutera Zdravkovska, que destaca o legado da religiosa. "Acho que ela estaria realmente incomodada com esse tipo de debate", lamentou.
Fonte:http://g1.globo.com/mundo/noticia/2016/09/origem-de-madre-teresa-e-fonte-de-disputa-entre-albaneses-e-macedonios.html

Comentários